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Um ano após assassinato, Marielle é ícone consolidado do ativismo no Brasil

14/03/2019 06h00

Sandra Carnota Mallón.

Rio de Janeiro, 14 mar (EFE).- O Brasil lembra nesta quinta-feira um ano do assassinato da vereadora e ativista de direitos humanos Marielle Franco, que se tornou um símbolo da luta contra a desigualdade social, o racismo e a homofobia no país.

Na noite de 14 de março de 2018, Marielle, aos 38 anos de idade, foi morta a tiros junto com o motorista que a levava, Anderson Gomes, no bairro do Estácio, na região central do Rio de Janeiro, depois de participar de um debate no espaço Casa das Pretas.

Um ano após a tragédia que consternou o Brasil, duas pessoas foram detidas: Ronnie Lessa, sargento reformado da Polícia Militar e suspeito de ser o autor dos disparos, e Élcio Vieira de Queiroz, ex-sargento da PM (foi expulso da corporação) e acusado de dirigir o automóvel de onde os tiros partiram.

De acordo com o Ministério Público, a vereadora teria sido assassinada pela sua atuação política e pelas causas que defendia. Outras hipóteses, no entanto, não estão descartadas. As investigações seguem em andamento, e a Polícia Civil tenta descobrir possíveis mandantes e outros envolvidos.

Nascida no Complexo da Maré, Marielle já é um símbolo na história do Brasil. No último dia 8, Dia Internacional da Mulher, seu nome foi cantado pela maioria dos participantes das manifestações que aconteceram em várias cidades do país por ocasião da data. Além disso, seu rosto e seu nome - estampado em camisetas - já são sinônimo de revolução, e o assassinato marcou o antes e o depois do ativismo social no Brasil.

De família humilde, Marielle estudou Sociologia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e fez mestrado em Administração Pública na Universidade Federal Fluminense (UFF). Trabalhou em ONGs e começou na militância pelos direitos humanos depois de perder uma amiga, vítima de bala perdida, em um tiroteio entre traficantes e policiais na Maré. Aos 19 anos, teve sua primeira e única filha, e depois disso se envolveu na defesa pelos direitos das mulheres e acentuou o debate nas favelas.

Integrante do Psol, ela focava sua luta nos direitos de mulheres e jovens negros, dos moradores de periferias e nos da comunidade LGBTI. Foi a quinta vereadora mais votada no Rio de Janeiro nas eleições de 2016, com 46.502 votos. Entre outras atividades, foi relatora da comissão da Câmara Municipal criada para fiscalizar a intervenção militar no estado do Rio, decretada pelo ex-presidente Michel Temer em 16 de fevereiro de 2018.

Em entrevistas, parentes a descrevem como lutadora, bondosa e corajosa. Colegas de partido destacam a importância da luta de Marielle na política e no ativismo, não só do Brasil, mas do mundo.

Vereador do Psol e amigo pessoal, Tarcísio Motta afirma que Marielle foi uma mulher "firme, capaz de sorrir, mas de corrigir as coisas que via que estavam ruins". A relação entre os dois era muito próxima. Depois da tristeza inicial, surgiu uma reação de "responsabilidade e defesa de ideias".

Em declarações à Agência Efe, ele destacou que uma das maiores conquistas de Marielle foi se fazer presente em um ambiente ocupado historicamente por "homens, brancos e poderosos". Por isso a chegada de uma mulher negra e da favela representou uma revolução. EFE