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Bachelet pede a Maduro que garanta trabalho de missão da ONU na Venezuela

20/03/2019 15h05

Genebra, 20 mar (EFE).- A alta-comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, pediu nesta quarta-feira ao governo da Venezuela que garanta aos especialistas que atualmente estão no país o acesso a locais e pessoas que a equipe escolha, sem represálias contra os entrevistados.

"Uma equipe técnica do meu escritório está atualmente no país e considero que esta é uma primeira medida positiva. É essencial que a equipe tenha acesso total e sem restrições", destacou Bachelet em discurso diante do Conselho de Direitos Humanos, em Genebra.

Ela também pediu ao governo de Nicolás Maduro que não aja "contra nenhuma pessoa que tenha sido entrevistada ou se reunido com eles", sem dar detalhes sobre quem são as pessoas com que a missão está conversando.

O grupo está na Venezuela para estudar uma possível visita de Bachelet, já que o governo de Maduro fez um convite, mas a ONU quer se assegurar de que terá livre acesso a opositores e dissidentes.

"Desde junho de 2018, o exercício dos direitos sociais e econômicos piorou continuamente. E as autoridades venezuelanas se negaram a reconhecer as dimensões e a gravidade da crise nos quesitos dos cuidados médicos, da alimentação e dos serviços básicos", disse a ex-presidente do Chile.

A alta-comissária indicou, por outro lado, que as sanções americanas ao governo venezuelano e que afetam, entre outros aspectos, a venda de petróleo, "podem contribuir para agravar a situação econômica". E destacou que o seu escritório continua investigando as denúncias de execuções extrajudiciais, com pelo menos 205 mortes atribuídas às Forças de Ações Especiais (Faes) em 2017 e outras 37 só nos protestos de em janeiro de 2019, coincidindo com a autoproclamação do chefe da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, como presidente interino da Venezuela.

"Também me inquieta o aumento das restrições à liberdade de expressão e de imprensa na Venezuela", ressaltou, afirmando que a "Lei contra o ódio", aprovada em novembro de 2017, foi usada arbitrariamente contra jornalistas, membros da oposição e dissidentes.

No âmbito social, Bachelet disse que os recentes apagões "simbolizam os problemas de infraestrutura que o país enfrenta" e onde 1 milhão de crianças deixaram de frequentar a escola por problemas econômicos das famílias ou pela simples falta de professores, já muitos saíram do país.

"É preciso alcançar um acordo para uma solução política", concluiu.

Em resposta ao relatório de Bachelet, a representação venezuelana acusou nesta quarta-feira os Estados Unidos e os seus "acólitos regionais" de estarem por trás das manifestações violentas no país, do ataque contra Nicolás Maduro em agosto de 2018 e do blecaute geral em diversas cidades venezuelanas, entre outros aspectos.

"Os atos violentos e criminosos que se repetiram na Venezuela nos últimos anos são promovidos por um setor da oposição financiado a partir do exterior", afirmou em discurso no mesmo encontro o embaixador da Venezuela em Genebra, Jorge Valero.

O diplomata acrescentou que Estados Unidos "roubam" os recursos econômicos do país, negando a possibilidade da Venezuela adquirir alimentos e remédios, e com "seus acólitos regionais fala de uma suposta crise humanitária". EFE