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"Onde tinha casa, já não tem mais nada", diz testemunha da devastação de Idai

20/03/2019 16h44

Adérito Caldeira.

Maputo, 20 mar (EFE).- O deputado moçambicano Juliano Picardo, que mora na cidade de Beira, na região central de Moçambique, não estava em casa quando o ciclone Idai chegou na quinta-feira passada e, ao voltar no domingo, percebeu que na região onde havia residências, não restava mais nada.

Em conversa com a Agência Efe por telefone, Picardo contou que foi a Chimoio, uma cidade no interior de Moçambique, na semana passada. Como não conseguiu ligar para a família depois da passagem do ciclone, decidiu voltar a Beira, primeiro de carro e depois a pé.

"Era uma área residencial. Na quinta, quando fui para Chimoio, vi muitas casinhas tradicionais que a nossa comunidade constrói. No domingo não tinha absolutamente mais nada", disse o parlamentar.

Os trabalhos de resgate estão se intensificando agora que as chuvas geradas pelo ciclone começaram a diminuir, mas não a parar, e milhares de pessoas continuam isoladas em cima de telhados ou em copas de árvores, à espera de resgate.

Em Beira, de acordo com o deputado do partido opositor Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), os corpos se acumulam na entrada do necrotério, anexo ao Hospital Central, por conta da impossibilidade de enterrá-los, já que os cemitérios estão cobertos de água.

"As pessoas não levam mais ninguém para o necrotério. O chão está encharcado, não dá para realizar funerais. Estamos guardando os corpos em lugares que achamos seguros, sem água", completou o parlamentar.

Além disso, os números oficiais divulgados pelo governo de Moçambique, que indicam 202 mortos até o momento, não coincidem com a realidade, segundo ele.

"Não há números exatos, todos os dias aparecem corpos. O cenário é de muita tristeza", admitiu o legislador.

Na última parte do trajeto de volta para casa, Picardo ajudou algumas pessoas a descerem de árvores e resgatou corpos da enchente.

"A cidade de Beira precisa de muita solidariedade", apelou o deputado, que relatou que a cidade, de 500 mil habitantes, não tem luz, água potável ou combustível.

De acordo com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, a cidade está 90% devastada e os danos em áreas rurais ou de acesso dificultado ainda precisam ser avaliados.

O Idai chegou no último dia 14 ao litoral de Moçambique e continuou na direção do leste do Zimbábue na sexta.

No Zimbábue, o ciclone deixou, por enquanto, 102 mortos e 217 desaparecidos, segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), que acredita que esses números podem aumentar. EFE