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Sustentação de Maduro, militares viram foco de disputa por poder na Venezuela

20/03/2019 20h33

José Luis Paniagua.

Caracas, 20 mar (EFE).- Quase dois meses depois da autoproclamação de Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela, a Força Armada Nacional Bolivariana (FAVB) permanece no foco da disputa de poder no país, com diferentes atores tentando convencer os militares a abandonar o regime de Nicolás Maduro.

Sem dar sinais de divisão interna em público, os militares são o centro de todos os cálculos políticos na Venezuela. Os opositores confiam que uma ruptura da FAVB com o chavismo possa provocar a queda de Maduro. Já a situação vê no órgão um fator de estabilidade.

Desde que Guaidó se autoproclamou presidente interino da Venezuela em 23 de janeiro deste ano, sendo automaticamente reconhecido por mais de 50 países, entre eles o Brasil, centenas de militares desertaram e se exilaram na Colômbia.

Mas o número não foi suficiente para mudar a balança de poder em Caracas. Em fevereiro, o ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, começou um expurgo desses dissidentes, informando que mais de 100 integrantes da FANB haviam sido expulsos por causa das deserções.

Ontem, no Diário Oficial, o governo de Maduro oficializou a expulsão de outros 27 oficiais e suboficiais da FANB.

A Assembleia Nacional da Venezuela, comandada por Guaidó, voltou a tentar persuadir os militares a abandonar Maduro nesta semana ao propor um documento batizado como "Acordo para Incorporação, Reinstitucionalização e Fortalecimento das Forças Armadas".

A proposta pede que os integrantes da FANB desobedeçam as ordens de Maduro, garantindo que todos os direitos dos militares, incluindo as atuais patentes e condecorações, seriam mantidas no possível novo governo.

O pedido dos opositores se soma às solicitações diárias feitas por Guaidó e às muitas exigências já feitas pelos Estados Unidos.

"A ruptura na FANB só é possível de ser medida a partir da manifestação de oficiais do comando. Eu posso ter uma ampla base de deserções nas tropas, mas isso não basta para a ruptura", disse Rocío San Miguel, presidente da ONG Controle Cidadão para a Segurança, a Defesa e a Força Armada Nacional, em entrevista à Agência Efe.

Até o momento, apenas dois oficiais do alto escalão reconheceram Guaidó como chefe de governo. Um deles é Carlos Rotondaro, que comandou o Instituto Nacional dos Seguros Sociais (IVSS) por dez anos. O outro é o general de divisão Francisco Esteban Yánez Rodríguez.

"Até o momento temos dois generais, Yánez e Rotondaro, mas oficiais comandantes, na verdade, foram poucos os que desertaram", disse a ativista venezuelana.

Maduro está cercado de alguns dos militares que faziam parte do círculo íntimo de Hugo Chávez, como o comandante do Exército, major-general Jesús Suárez Chourio, que acompanhou o ex-presidente no fracassado golpe de Estado de 1992.

Também estão ao lado do líder chavista o próprio Padrino López, considerado como um dos nomes mais influentes dentro da FANB, e o chefe do Comando Estratégico Operacional, o almirante Remigio Ceballos. Os três estão entre os sancionados pelos Estados Unidos.

Apesar das deserções crescentes entre os militares de baixa patente como consequência da crise econômica que vive o país, San Miguel avalia que a estratégia de Guaidó não está funcionando.

"A lei de anistia não surtiu o efeito desejado", afirmou.

Segundo a ativista, falta uma "oferta clara" de Guaidó aos militares, que querem saber qual será a política do autoproclamado presidente da Venezuela para a FANB e o que ele fará em termos de punições para os corruptos e violadores de direitos humanos.

"Acredito que isso não foi suficientemente explicitado para os militares", disse a ativista.

Um grupo de militares venezuelanos que estava em Cúcuta, na Colômbia, denunciou nesta semana que corriam risco de serem expulsos da cidade após a deserção.

O governo de Iván Duque reagiu, afirmando que eles terão seu apoio e que os pedidos de refúgio estão sendo analisados.

"Os militares foram enganados", disse o presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Diosdado Cabello, também integrante da FANB, ao falar da situação. EFE