Topo

Grupo misterioso é suspeito de assalto à embaixada norte-coreana em Madri

21/03/2019 06h00

Andrés Sánchez Braun.

Seul, 21 mar (EFE).- Revelado em março de 2017, o Cheollima Civil Defense (CCD) é um misterioso grupo de oposição ao governo da Coreia do Norte que agora é considerado suspeito de ter realizado o recente assalto à embaixada do país em Madri, na Espanha.

No site mantido na internet, o grupo diz ser uma frente de oposição ao regime dos Kim, a primeira do tipo já criada desde a formação da Coreia do Norte, e dedica-se a ajudar pessoas a desertarem do país, algo temido pela população devido aos relatos sobre o que aconteceu com aqueles que foram pegos pelo governo.

Nas 22 mensagens publicadas em dois anos, o CCD diz estar disposto a aceitar "apoio financeiro" em bitcoins. Inclusive, anunciou a criação de um "governo provisório" no exílio, colocando à venda 200 mil vistos eletrônicos para visitar o norte da península coreana assim que ela for "libertada" das mãos de Kim Jong-un.

Após o jornal espanhol "El Confidencial" ter revelado a possibilidade de a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) ter envolvimento no assalto, o "The Washington Post" afirmou que o grupo opositor é o responsável pelo ataque.

O jornal americano cita "pessoas com conhecimento sobre o planejamento e a execução do ataque", enquanto o "El Confidencial" ouviu fontes ligadas à investigação do caso na Espanha.

No dia seguinte à publicação da matéria do "Post", o CCD divulgou uma mensagem à imprensa. No texto, o grupo não menciona o assalto em Madri, mas pede que as identidades de seus membros sejam mantidas em segredo para evitar transformá-los em alvos de Kim.

Questionado pela Agência Efe sobre a possibilidade de os assaltantes terem passaporte sul-coreano, o Ministério de Relações Exteriores da Coreia do Sul disse que não tinha "nada a declarar".

Na ação, o grupo que invadiu a embaixada da Coreia do Norte em Madri rendeu os diplomatas que estavam no local e levaram equipamentos de informática e telefones.

Aos desertores norte-coreanos - o site do CCD dá entender que os integrantes do grupo fugiram do país -, a Coreia do Sul concede nacionalidade aos que passam por um processo de investigação e são aprovados no programa de adaptação do Serviço Nacional de Inteligência (NIS), que dura cerca de três meses.

O grupo, que agora quer ser chamado de Free Jonseon, em referência ao nome da Coreia unificada até 1945, usou nas mensagens em coreano termos que são usados comumente no Norte e raramente no Sul, como "dongji" ("camarada") ou "jeogug" ("pátria").

No entanto, uma observação mais cautelosa mostra que o coreano usado nos textos é "incorreto". A análise foi feita a pedido da Efe para um especialista nos dialetos das duas Coreias que preferiu não ser identificado.

"Enquanto as mensagens em inglês são perfeitas, várias frases em coreano, especialmente as que são mais longas ou com ideias mais abstratas, não parecem escritas por coreanos. Em alguns casos, parecem ter usado um dicionário para traduzir do inglês para o coreano", explicou o especialista.

"O site dá a impressão de ter sido criado para meios de comunicação estrangeiros. O nível de coreano de alguns integrantes do grupo sugere que eles falam o idioma, mas que ele não é nativo. Eles podem ser, por exemplo, americanos descendentes de coreanos", detalhou a fonte ouvida pela Efe.

Ativista com longa trajetória no acompanhamento de norte-coreanos que cruzam a fronteira para o Sul e com contatos em Pyongyang, Do Hee-yeun concorda que o site não foi escrito por um nativo.

O principal contato de Hee-yeun era Yi Hang-yong, primo de Kim Jong-nam, meio irmão do atual líder da Coreia do Norte. Yi foi assassinado em 1997, possivelmente pelo regime, após desertar. Jong-nam foi morto na Malásia há dois anos.

Um dos filhos de Jong-nam, Kim Han-sol, foi o protagonista da primeira publicação que o CCD fez na internet em março de 2017. Ele aparece em um vídeo anunciando que estava em um lugar seguro, acompanhado de sua mãe e de sua irmã, após a morte de seu pai.

Hee-yeun está convencido de que o grupo opositor teve relação com o resgate da família de Jong-nam. Apesar de considerar que o CCD tem vínculos com desertores norte-coreanos, o ativista não acredita que eles formem o "núcleo" da organização.

"Os desertores seriam uma fachada para uma operação que teria por trás serviços de inteligência de peso. O objetivo seria enviar uma advertência a Kim Jong-un", especulou Hee-yeun.

O ativista fez questão de ressaltar que essa é uma conjectura, uma das muitas sobre o misterioso grupo que agora quer libertar a península coreana, como diz o novo nome escolhido por eles. EFE