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Homem que ateou fogo em ônibus na Itália não é terrorista, dizem autoridades

21/03/2019 12h12

Roma, 21 mar (EFE).- O motorista de origem senegalesa e naturalizado italiano desde 2005, que na quarta-feira ateou fogo em um ônibus escolar com 51 estudantes no interior do veículo em Milão, tinha previsto a ação, mas as autoridades excluíram vínculos com o extremismo islamita.

Ousseynou Sy, de 47 anos e responsável por levar os estudantes de um colégio de Crema a um ginásio, dirigiu o ônibus rumo ao aeroporto de Linate, em Milão, porque queria se vingar pelos imigrantes mortos no Mediterrâneo e, para isso, comprou vários galões de gasolina e lacres de plástico para amarrar os estudantes.

Após a detenção, foi revelado que Sy tinha antecedentes criminais por condução em estado de embriaguez e uma condenação por abuso sexual a uma menor, fatos que não tinha comunicado à empresa que lhe deu trabalho como motorista de ônibus escolar.

Sy confiscou todos os telefones celulares que haviam no ônibus e ordenou aos professores que amarrassem alguns alunos nos assentos.

Mas um dos estudantes conseguiu ligar para seus pais, que avisaram a polícia, depois que Sy informou suas intenções e assegurou que "ninguém sairia vivo".

De vez em quando, Sy parava e jogava gasolina no piso do ônibus.

A polícia conseguiu deter o ônibus com algumas patrulhas na estrada e quebrou os vidros para que as crianças pudessem sair do veículo.

Os alunos que tinham sido amarrados conseguiram se libertar.

Em um vídeo gravado por uma pessoa que passava pela mesma estrada no momento dos fatos e que foi divulgado pelos veículos de imprensa italianos, é possível observar o pânico das crianças, de 10 anos, correndo e gritando.

Nenhuma criança ficou ferida, embora 14 delas tenham sido levadas a um hospital por inalação de fumaça.

Sy foi acusado de sequestro, incêndio, tentativa de homicídio múltiplo e terrorismo, mas o promotor de Milão Alberto Nobile, que começou as investigações, já assegurou que o indivíduo não tinha vínculos com o extremismo e que não era um homem religioso.

O advogado do detido explicou ao canal de televisão "Skytg24" que Sy pretendia realizar "um gesto grande" para chamar a atenção sobre a tragédia dos mortos no Mediterrâneo, mas que a "ação não saiu como o esperado".

Por outro lado, o jornal "Corriere della Sera" informou que o homem, divorciado de uma mulher italiana e com dois filhos adolescentes, tinha enviado um vídeo a amigos no Senegal no qual pedia que reagissem diante das mortes no Mediterrâneo e lhes aconselhava a não viajar para a Itália.

O ministro do Interior, Matteo Salvini, afirmou que fará o possível para que o homem tenha sua cidadania italiana retirada.

Já Ramy, que é chamado pelos veículos de imprensa italianos de "criança heroína", não tem a nacionalidade italiana.

O anterior Governo progressista tentou introduzir a "Ius Solis" (direito de solo) para conceder nacionalidade a cerca de 800 mil crianças nascidas no país de pais estrangeiros, mas esta nunca progrediu pela falta de apoio dos outros partidos políticos, entre eles a ultradireitista Liga de Salvini.

O pai de Ramy, Khalid Shehata, procedente do Egito, explicou à agência italiana "AGI" que embora seu filho tenha nascido na Itália e sua família viva no país desde 2001, não conseguiram a nacionalidade para seu filho.

"Nunca consegui reunir todos os documentos necessários para pedir a residência, mas sinto este país como meu e estou muito orgulhoso pelo o que meu filho fez", explicou à AGI o pai de Ramy.

O líder do antisistema Movimento 5 Estrelas (M5S) e ministro de Trabalho, Luigi di Maio, pediu hoje a concessão da cidadania honorífica à criança, "que colocou sua vida em perigo para salvar seus companheiros".

"Acho que é preciso tirar imediatamente a nacionalidade desse criminoso de ontem (...) mas a um dos heróis de ontem Ramy, de origem egípcia, é preciso concender a nacionalidade", disse Di Maio, cujo partido não apoiou a introdução do Ius "Solis",

A este pedido, Salvini se limitou a declarar: "Já veremos".EFE