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Argelinos participam de mais uma sexta-feira de protestos contra corrupção

22/03/2019 09h33

Argel, 22 mar (EFE).- Milhares de pessoas voltaram a encher as ruas de Argel e de outras cidades da Argélia na quinta manifestação consecutiva convocada às sextas-feiras contra o regime militar, que parece cada vez mais frágil diante de uma população que exige sua queda e aponta a corrupção como a origem da grave crise econômica.

Desde o começo da manhã, milhares de famílias caminhavam rumo aos arredores da simbólica praça de Grand Post, centro nervoso da capital, com gorros, cachecóis, bandeiras e vuvuzelas.

Nas escadas do famoso edifício de estilo otomano, milhares de pessoas gritavam as palavras de ordem já conhecidas como "o povo fará este regime cair", erguendo cartazes nos quais exigiam "uma limpeza geral".

"Hoje é o grande dia. Hoje vai vir aqui Argel Iinteira e este regime vai cair. A determinação do povo é total", explicou à Agência Efe Ahmed A.l., advogado da cidade vizinha de Blida com sua mulher e seus filhos.

Sócio de um escritório, para o advogado, o caminho a seguir é clara: acabar com o atual governo, apagar todas as caras conhecidas do regime e estabelecer um governo de tecnocratas independentes que não estejam manchados e que administrem por um breve período de transição e convoquem novas eleições presidenciais.

As manifestações explodiram nas ruas de toda a Argélia em 22 de fevereiro, após meses restritos aos estádios de futebol.

A princípio, exigiam a renúncia do presidente, Abdulaziz Bouteflika, gravemente doente e deficiente físico desde que em 2013 sofreu um derrame cerebral.

Bouteflika desistiu da reeleição para um quinto mandato em 11 de março, adiou as eleições presidenciais previstas para 18 de abril e abriu um período de transição comandado por dois de seus ministros, um plano para aliviar a pressão nas ruas, que não funcionou.

O novo primeiro-ministro, Nouredin Bedaui - antigo ministro de Interior - e seu vice-primeiro-ministro e ex-chanceler, Rantam Lamamra, não só não conseguiram formar esse governo de acerto nacional, mas viram os sindicatos e a sociedade civil se somarem aos protestos.

Além disso, grande parte do oficialismo também se uniu ao movimento, em particular à Frente de Libertação Popular (FLN), partido presidido por Bouteflika e que governa o país desde a independência da França em 1962 e seu parceiro de governo, o Agrupamento Nacional Democrático (RND), que é liderado pelo ex-primeiro-ministro Ahmed Ouyahia.

Quem não se pronunciou ainda é o Exército, que no último ano foi alvo de uma intensa limpeza que levou mais incerteza sobre o futuro de um país fundamental para a estabilidade no Mediterrâneo. EFE