O que são as Colinas de Golã que Trump reconhece como israelenses?
Ana Cárdenes.
Jerusalém, 22 mar (EFE).- As Colinas de Golã, na fronteira entre Síria, Líbano, Israel e Jordânia, são um lugar privilegiado e de grande importância estratégica regional. E o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acaba de prometer que reconhecerá a soberania de Israel na parte ocupada por israelenses no lado sírio desde 1967.
Este planalto vulcânico, montanhoso e verde, em uma região árida e com grandes extensões desérticas, tem uma área de 1.800 quilômetros quadrados e é banhado ao sul pelo rio Yarmouk.
Aos seus pés ficam o Vale do Jordão e o mar da Galileia, uma das áreas mais férteis da região de onde sai a água que desce pelo bíblico rio Jordão, e tem no norte o monte Hermon e no leste o vale de Raqad.
Israel controla desde a Guerra dos Seis Dias dois terços do território, enquanto a outra terça parte ficou sob o controle do governo sírio até o início da guerra civil em 2011. Desde então, foi mudando de mãos entre os diferentes grupos em luta contra o regime de Bashar al Assad e as forças governamentais.
A comunidade internacional não reconhece a soberania israelense nesse território, que o país anexou em 1981 unilateralmente e sem o reconhecimento da comunidade internacional, que continua considerando todo o planalto como território sírio ocupado.
Desde 1974, unidades da UNDOF (Força da ONU de Observação da Separação) fazem a segurança em 266 quilômetros quadrados de fronteira e terra de ninguém entre Síria e Israel, verificando o cumprimento do acordo de armistício de 1967, conhecido como Linha Roxa.
As resoluções 242 e 497 do Conselho de Segurança da ONU são claras a respeito do posicionamento internacional sobre este espaço, um consenso que Trump dinamitou ontem com sua mensagem no Twitter.
"Após 52 anos é hora de reconhecer plenamente a soberania israelense sobre as Colinas de Golã, que são de importância estratégica e de segurança crítica para o Estado de Israel e a estabilidade regional", escreveu o presidente americano.
Uma posição totalmente oposta à mantida até agora pelos diferentes governos dos EUA e confirmadas nas Nações Unidas.
A resolução 242 da ONU (de 1967) lembra a Israel "a inadmissibilidade da aquisição de território por meio da guerra", enquanto a 497 (de 1981) considera "nula, inválida e sem efeito internacional legal a decisão israelense de impor suas leis, jurisdição e administração nas Colinas de Golã sírias ocupadas".
Fontes diplomáticas russas condenaram a decisão de Trump e afirmaram que os acordos internacionais referentes a Golã têm que ser mudados no Conselho de Segurança da ONU e que não se pode alterar o status da região "à base de tweets", segundo informou hoje a rádio estatal israelense "Kan".
Nestes últimos 50 anos, Israel reforçou sua presença no estratégico planalto e somou milhares de judeus israelenses, que a comunidade internacional considera como colonos, à população drusa-síria (árabes) que lá ficou após a tomada do território.
Atualmente, quatro cidades árabes estão na área ocupada das Colinas de Golã: Majdel Shams, Ein Qiniyye, Masade e Buqata, povoadas por 27 mil sírios, a maioria drusos.
A estas localidades se somam 30 assentamentos judaicos, que começaram a ser erguidos após a guerra, em muitos dos quais a agricultura é a principal atividade e nos quais vivem 20 ml israelenses.
Além da sua importância estratégica por sua altitude, que permite ampla visibilidade do território de quatro países (de lá é possível observar com facilidade Damasco, 60 quilômetros ao norte), as Colinas de Golã também são essenciais por conta dos seus recursos hídricos.
A região tem mais incidência de chuva do que áreas adjacentes mais baixas, conta com um terreno vulcânico fértil e suas montanhas nevadas no inverno alimentam rios e águas subterrâneas que fornecem a Israel um terço de sua água. EFE
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