Pais de jovens que foram lutar com EI sofrem drama triplo na França
Luis Miguel Pascual.
Paris, 22 mar (EFE).- Além da dor pela perda de um filho capitaneado pelo Estado Islâmico (EI) e do estigma gerado pela rejeição social, um grupo de avôs e avós franceses têm um terceiro drama: a distância dos netos retidos em campos de refugiados curdos.
Para diminuir a dor, eles se uniram para reivindicar que a França repatrie os menores, inocentes em uma barbárie que supostamente vive as suas últimas horas.
"O governo francês não pode transformar as crianças em culpadas por algo que seus pais cometeram", disse à Agência Efe o advogado Marc Bailly, que representa vários desses avôs e avós.
A França, que a princípio tinha se mostrado intransigente com o tema, mudou a posição. Há uma semana, o governo aceitou repatriar cinco órfãos, entre eles os netos de Lydie Maninchedda, de 1, 3 e 5 anos. Eles são filhos de sua filha Julie, que morreu na Síria, com um jihadista alemão que está preso.
Esse exemplo deu ânimo a outras muitas famílias. O ministro de Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, agora está menos reticente a permitir os retornos.
"Repatriamos cinco órfãos. É possível que existam outros e, se as condições permitirem, nós os traremos", declarou ele à emissora "BFMTV".
Drian, no entanto, listou as condições: é preciso ser órfão, ter até cinco anos e uma relação bem estabelecida com a França.
"É preciso ter cuidado para não ser manipulado. Elas (as mães) não foram lá em 2015 para fazer turismo. São militantes do Estado Islâmico, do jihadismo, que foram para lutar contra a França", afirmou.
O número exato de mães e crianças é desconhecido.
Para o advogado, esses argumentos são "vergonhosos", porque significam beneficiar algumas crianças em detrimento de outras pela atitude dos pais.
"Por qual motivo alguns órfãos sim e os outros não? Qual a culpa das crianças? Precisamos abandoná-los porque os pais escolheram outro destino?", questionou.
Bailly disse que o governo francês não cumpre obrigações internacionais e "se submeter à opinião pública", que considera todo combatente do Estado Islâmico e seus filhos como "bombas com efeito retardado".
A França é signatária da Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, que vigora desde 1990. Bailly, então, levou ao Comitê sobre os Direitos da Criança das Nações Unidas os pedidos dos avôs, depois que a Justiça rejeitou os apelos.
"Não é só uma obrigação humanitária pelos riscos que correm. É também por motivos de segurança. Esses meninos e meninas não podem ficar nas mãos dos curdos, que estão em uma situação precária, ou do Iraque, que tem vários outros problemas. É jogá-los para um problema que a França deve resolver", argumentou.
Para ele, os menores devem ser amparados e as mães julgadas no país de origem.
Alguns avôs, desesperados, tentam outras vias. Pascale, por exemplo, se escondeu em um nome fictício para pedir no jornal "La Voix du Nord" a volta dos quatro netos, que estão com a mãe em Al Hawl, na província síria de Al Hasakah.
"É desumano deixá-los lá. É abuso passivo", afirmou essa senhora que vive no norte da França.
De acordo com ela, a filha se converteu ao islã aos 17 anos e, após o fim de um relacionamento, se radicalizou ao ponto de combater ao lado do Estado Islâmico na Síria. Hoje, aos 30 anos, é uma das muitas pessoas que vivem com crianças em campos de refugiados no país árabe. EFE
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