Tailândia elege novo Parlamento, mas militares mantêm influência no poder
Jordi Calvet.
Bangcoc, 22 mar (EFE).- Quase cinco anos após o Exército tomar o poder em um golpe de Estado, a Tailândia realizará neste domingo eleições legislativas para escolher uma nova composição do Parlamento, que continuará sob influência dos militares, independentemente do resultado das urnas.
A votação deveria servir para restabelecer a democracia, suspensa no levante de maio de 2014, que os generais justificaram como necessário para acabar com a corrupção e a instabilidade política, após meses de protestos populares.
Mas o pleito, adiado algumas vezes, acontecerá depois de uma profunda reforma jurídica destinada a restringir a margem de manobra dos governos eleitos e a consolidar a ingerência militar na vida política do país.
As eleições servirão, por outro lado, para medir o apoio ou a rejeição popular à junta militar e ao primeiro-ministro - o general golpista Prayut Chan-ocha, que quer continuar no cargo, desta vez, com a legitimidade das urnas.
O regime foi marcado pela intolerância a qualquer forma de dissidência, que levou centenas de pessoas a passarem dias detidas, o que as autoridades chamaram de "ajuste de atitude", inclusive por protestos simbólicos como comer um sanduíche em público.
Outras dezenas foram detidas sob as leis de lesa-majestade e de crimes eletrônicos, que preveem duras penas de prisão e que foram utilizadas como ferramentas de censura e para combater críticas à junta.
O governo militar, envolvido em vários escândalos de corrupção e que encheu de generais os conselhos de administração de empresas estatais, também foi afetado pelo fraco desempenho da economia, a que menos cresceu no Sudeste Asiático.
Sob o comando dos militares, além disso, a Tailândia tornou-se em 2018 o país mais desigual do mundo, com 66% da riqueza nas mãos da parcela mais rica, de 1%, segundo o banco Credit Suisse.
No pleito, que deve contar com a participação de 51,4 milhões de pessoas, estarão em jogo as 500 cadeiras da Casa de Representantes, a câmara baixa do Parlamento. Deste total, 350 ficarão com os vencedores dos distritos eleitorais, e as outras 150 serão definidas pelo sistema de lista fechada, pelo qual o número de eleitos é proporcional ao de votos recebidos pelos partidos.
Os deputados serão os responsáveis por designar o novo primeiro-ministro em uma votação conjunta com os 250 senadores, que serão escolhidos pela junta militar e incluirão os chefes das Forças Armadas.
Prayut, proposto como candidato a primeiro-ministro pelo partido Phalang Pracharat, comandado por vários de seus ex-ministros, larga assim com vantagem para prolongar seu mandato, já que só precisaria do apoio de 126 deputados eleitos.
O general, que esperou até o último dia para confirmar que aceitava a indicação, passou o último ano fazendo campanha e cooptando opositores, enquanto mantinha efetivamente a proibição a qualquer atividade política imposta após o golpe.
Além disso, ele se negou a debater com seus adversários, mantém o cargo de primeiro-ministro com plenas funções e, como chefe da junta militar, é beneficiado pelo artigo 44 da nova Constituição, que lhe dá poder absoluto e imunidade.
O principal concorrente de Prayut deveria sair do movimento político liderado pelo ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, ganhador de todas as eleições desde 2001, mas cujos governos foram depostos pelo Exército ou pela Justiça.
O Pheu Thai, que formou o último governo democrático, é carro-chefe desta corrente, que desta vez decidiu concorrer dividida em quatro legendas para evitar uma nova norma que limita o número de assentos por partido.
O plano foi abalado depois que uma destas legendas, o Thai Raksa Chat, foi considerado ilegal por uso indevido da monarquia ao nomear a princesa Ubolratana Mahidol, irmã mais velha do rei Vajiralongkorn, como candidata a primeira-ministra.
O grande beneficiado poderá ser o Anakot Mai, partido novo liderado pelo empresário Thanathorn Juangroongruangkit, cujo sucesso entre o eleitorado jovem e sua proposta de reduzir o orçamento militar o colocou no ponto de mira da junta, que o processou por suas críticas ao regime.
Outro partido a concorrer será o Democrata, preferido tradicionalmente pelas elites de Bangcoc, as mesmas que apoiaram o golpe, mas cujo líder, o ex-primeiro-ministro Abhisit Vejjajiva, anunciou oposição às pretensões de Prayut de continuar à frente do governo.
As eleições serão as primeiras após a morte do rei Bhumibol, morto em outubro de 2016 após 70 anos na chefia de Estado, e os resultados oficiais só serão anunciados dentro de dois meses, depois da cerimônia de coroação de Vajiralongkorn. EFE
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