Justiça chilena emite histórica decisão "sem precedentes" contra Igreja
Marcial Campo Maza.
Santiago do Chile, 27 mar (EFE).- A decisão da Justiça do Chile que obriga o Arcebispado de Santiago a reparar economicamente três vítimas que sofreram abusos de Fernando Karadima, um influente pároco que por décadas abusou sexualmente de crianças e adolescentes, "não tem precedentes e é histórica".
Essa foi a conclusão expressada nesta quarta-feira pelos três denunciantes, o sociólogo José Andrés Murillo, o jornalista Juan Carlos Cruz e o médico James Hamilton, que asseguraram que esta decisão lança "uma luz de esperança" para que a Igreja católica responda por cada acobertamento de abuso que possa ter cometido.
"Estamos satisfeitos porque a partir de agora a Igreja terá que responder pelos acobertamentos. Estes não podem continuar sendo impunes", enfatizou Hamilton.
Nesse sentido, sustentou que esta decisão assenta precedentes para que qualquer vítima possa alegar contra o abusador e também contra a Igreja como fiador.
"Esta decisão é histórica para o mundo porque se reconhece não só que são fiadores (a Igreja), mas também se reconhece uma estrutura de acobertamento e isso, em outra parte do mundo, está começando a ser considerado", acrescentou.
Durante esta quarta-feira foi informado que a nona sala da Corte de Apelações de Santiago revogou uma decisão de primeira instância de março de 2017 que tinha rejeitado o processo e determinou que tanto Hamilton, como Cruz e Murillo recebam 100 milhões de pesos (US$ 147.000) cada um.
Os três apresentaram em 3 de setembro de 2013 uma ação civil contra o Arcebispado de Santiago pelo suposto acobertamento dos abusos cometidos por Karadima, dois anos depois que foi condenado pela Justiça canônica a uma vida de reclusão e penitência e após o processo não ter avançado na Justiça penal, que, embora tenha confirmado as denúncias como verídicas, fechou o processo sem condenação pela prescrição dos crimes.
Em uma lotada entrevista coletiva, Hamilton, Murillo e Cruz, este último através de videoconferência, foram categóricos em assinalar que foram as vítimas que forçaram "a Justiça do Estado".
O Arcebispado de Santiago expressou minutos antes da entrevista coletiva, através de um comunicado, que tal decisão judicial "marca um passo importante" no processo de "restabelecer a justiça e a confiança" na Igreja de Santiago, e assegurou que não recorrerá contra a sentença ditada.
Por sua parte, Juan Pablo Hermosilla, o advogado das três vítimas, que apresentaram esta ação de forma conjunta, explicou que espera que esta notória decisão "dê um exemplo ao resto do mundo".
"No Chile se diz que a Igreja é fiador, deve proteger e não pode seguir impune. Acabou o ultimo enclave de impunidade neste país", enfatizou.
A Procuradoria Nacional do Chile investiga 219 religiosos chilenos em 158 casos de abusos sexuais contra 241 vítimas, das quais 123 eram menores de idade no momento dos fatos. EFE
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