Rússia quer influenciar na América Latina para desafiar EUA, diz estudo
Madri, 28 mar (EFE).- A presença da Rússia na América Latina é "frágil", mas há "evidências" de que o país quer influenciar na região mediante o uso de meios de comunicação e redes sociais, aparentar ser uma grande potência e "irritar" os Estados Unidos, segundo um estudo do Real Instituto Elcano apresentado nesta quinta-feira.
O documento alerta que o apoio russo a governos "não democráticos, como o da Venezuela", e a venda de armas e a cooperação militar com esse país, Nicarágua e Cuba "podem desestabilizar" a região e, consequentemente, influenciar "negativamente" nos investimentos e interesses políticos espanhóis.
Mas a "fraqueza econômica russa" e sua influência na região não são "nenhuma ameaça séria" atualmente para a Espanha, disse a autora do relatório, Mira Milosevich-Juaristi.
"Brasil e México são os maiores parceiros comerciais da Rússia, enquanto o 'triângulo do Caribe' - Venezuela, Cuba e Nicarágua -, com estreitos vínculos políticos e militares com o Kremlin, favorece a penetração geopolítica russa no continente", descreve o estudo.
Mas se o líder opositor Juan Guaidó se transformar em presidente "reconhecido" da Venezuela, a Rússia ficará só com seus históricos aliados da Guerra Fria, o que "limitará ainda mais" sua presença e influência.
Segundo a autora, a Venezuela não é a Síria para a Rússia por razões geoestratégicas e intervir em um país tão distante seria "muito custoso".
A especialista acredita que a Rússia estabeleceu "certos canais" com a oposição, mas continuará apoiando Nicolás Maduro com uma "retórica antiamericana", embora não possa contribuir como ator em negociações para resolver a crise venezuelana.
"Está observando seus próprios interesses", acrescentou Mira, já que a Venezuela tem uma dívida de US$ 6 bilhões com o país.
Carlos Malamud, pesquisador principal do Instituto Elcano, explicou que, se Maduro sobreviver no poder, a Rússia ganhará na região.
Malamud e Jorge Urbiola, do Ministério das Relações Exteriores da Espanha, consideraram que a Rússia é um ator que deve ser levado em conta nesta crise.
Após o desaparecimento da URSS no final de 1991, explica o relatório, a Rússia intensificou sua presença na América Latina, sobretudo desde 2008, com reuniões bilaterais "do mais alto nível" e veículos de imprensa financiados pelo governo russo, o que a transformam em uma "potência virtual".
Moscou utilizou politicamente suas conexões na região para se mostrar disposta "a desafiar Washington", pois procura um sistema internacional sem hegemonia americana, e, na medida do possível, "colaborando com a China".
Mas segundo os critérios tradicionais de comércio e investimento, participação diplomática e venda de armas, a participação da Rússia na América Latina é pequena em comparação com outros países.
"Sem influência real, a virtual não será suficiente para conseguir nenhum dos objetivos estratégicos da Rússia", aponta o relatório.
O futuro de sua influência dependerá de ir além dos laços históricos com Cuba e Nicarágua e de seu papel de fornecedor de armas e equipamentos militares a Venezuela, México e Peru.
E os recentes apoios dos veículos de imprensa russos aos candidatos populistas no México e na Colômbia são exemplo disso.
Por isso é vital que a UE e a Espanha demonstrem um "compromisso a longo prazo" com a região. EFE
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