Felizes ou nem tanto, eis a questão dos países nórdicos
Juanjo Galán/Anxo Lamela.
Helsinque/Copenhague, 29 mar (EFE).- Líderes do estado de bem-estar social, os países nórdicos - com a Finlândia à frente - lideram o mais recente Relatório Mundial da Felicidade (World Happiness Report - WER) elaborado pelas Nações Unidas, mas há quem critique e questione os resultados.
A Finlândia lidera a lista dos países mais felizes do mundo pelo segundo ano consecutivo, com 7,76 pontos de um máximo de dez, seguida por Dinamarca, Noruega e Islândia. O quinto país nórdico, a Suécia, ocupa a sétima posição de 156 analisados. O último é o Sudão do Sul.
Por sua vez, o Brasil caiu 16 posições em 2019 e agora ocupa o 32º lugar.
Na hora de elaborar a classificação, os autores levaram em conta a percepção pessoal de milhares de entrevistados em seis variáveis que contribuem para o bem-estar: renda, assistência social, expectativa de vida saudável, liberdade, generosidade e corrupção.
"Todos os países nórdicos têm níveis muito avançados de democracia, igualdade e educação, além da ausência de corrupção e existe uma grande confiança no próximo", explicou à Agência Efe o finlandês Markku Ojanen, professor de Psicologia especializado em felicidade e bem-estar.
Para Ojanen, os países nórdicos merecem lugar de destaque no índice da ONU, mas a maneira como a medição é feita é passível de críticas.
"Os fatores relacionados ao bem-estar aumentam nossa felicidade, e por isso os países nórdicos estão tão no topo da classificação, mas acho que não somos tão felizes quanto o relatório diz, levando em conta todos os problemas que temos", analisou.
Segundo Ojanen, os países da América Latina, por exemplo, são muito felizes em relação ao nível de bem-estar e até superam os nórdicos em felicidade imediata (no caso da pergunta: Você está feliz atualmente?).
Da mesma forma, muitos finlandeses, cientes da sua peculiar idiossincrasia, veem com certa incredulidade o relatório e questionam os resultados.
"Nós, finlandeses, somos depressivos, propensos ao suicídio, afogamos a tristeza no álcool e, uma vez bêbados, matamos uns aos outros por motivos absurdos", comentou um leitor anônimo em um site após a publicação do levantamento.
Embora o comentário seja um tanto exagerado, ele reflete problemas reais e bem arraigados da sociedade finlandesa, como o abuso de bebida alcoólica e as altas taxas de suicídio e violência de gênero.
"Isto é um paradoxo e não é fácil de entender que, apesar de termos muitos problemas na mente, somos felizes. Diversos estudos mostram que as pessoas podem ser muito felizes mesmo tendo problemas sérios", disse Ojanen.
Em sua opinião, a receita do sucesso finlandês pode estar no fato de ser uma nação "não muito otimista que fica muito feliz quando suas expectativas negativas não se cumprem".
O Instituto de Pesquisa da Felicidade (HRI), em Copenhague (Dinamarca), assinala o Índice de Gini, que mede a desigualdade de renda em nível nacional, como uma das formas de explicar o domínio nórdico.
"A Finlândia, por exemplo, tem uma renda per capita muito inferior à dos Estados Unidos (que ocupa o posto número 19 no relatório). A diferença é a desigualdade. O que os países nórdicos fazem muito bem é redistribuir riqueza", destacou à Efe Alejandro Cencerrado, analista do HRI.
A imagem idílica desses países oferece, no entanto, alguns matizes, como indicado em um estudo recentemente elaborado pelo Conselho Nórdico e por este instituto, fundado em 2012, pelo dinamarquês Meik Wiking, autor de vários sucessos mundiais de venda, como "Hygge - O segredo dos dinamarqueses para uma vida feliz em qualquer lugar", lançado em 26 países.
No estudo ("À sombra da felicidade") é revelado, por exemplo, que na Dinamarca mais de 12% da população admite sofrer ou ter problemas, uma porcentagem que é ainda maior entre os jovens.
"A Dinamarca está há anos caindo no relatório da ONU, e isso está relacionado ao aumento de alguns problemas, como o estresse, principalmente nos mais jovens", ponderou Cencerrado. EFE
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