Capriles afirma que tempo não corre contra Guaidó, mas contra a Venezuela
José Luis Paniagua.
Caracas, 30 mar (EFE).- O duas vezes candidato presidencial Henrique Capriles, uma das figuras políticas mais importantes da Venezuela, acredita que o tempo não está correndo contra Juan Guaidó, reconhecido como presidente em exercício por mais de meia centena de países, mas contra a Venezuela.
O opositor Capriles continua sendo uma das referências políticas da Venezuela. Esteve a pouco mais de 200.000 votos de derrotar o chavismo há seis anos, em eleições que então impugnou devido a irregularidades, no primeiro dos capítulos da crise política que marca o governo de Nicolás Maduro até hoje.
Agora, o ex-governador de Miranda, inabilitado em 2017 a 15 anos - "por uma multa de menos de um dólar", lembrou aos risos -, assegura que o momento mudou.
"Quando contestamos as eleições de Maduro não houve nenhum país no mundo que nos apoiasse, ninguém (...) Quem teria imaginado o 23 de janeiro que depois traria o reconhecimento de 70 países...", ponderou.
No 23 de janeiro em questão, o líder do parlamento, Juan Guaidó, invocou a Constituição para assumir a presidência como interino com o propósito de convocar eleições que ainda não aconteceram, e que, segundo Capriles, "nas condições atuais é impossível" realizar.
"Com quem vamos convocar um processo eleitoral? Com um Conselho Nacional Eleitoral que degenerou o sistema eleitoral do país? Com um Tribunal Supremo completamente sequestrado?", questionou.
Nesse sentido, considera que tudo passa pelo fim da "usurpação", como a oposição chama a presidência de Nicolás Maduro.
"Depois de cessar a usurpação, há uma transição que permite recompor a institucionalidade do país e termina em uma solução que é a que o povo venezuelano elege", completou.
Capriles reconhece que houve avanços desde 23 de janeiro, mas, por outro lado, admite a pressão do tempo.
"O tempo não está correndo contra Guaidó, o tempo corre contra os venezuelanos, contra a Venezuela, porque um cenário de hiperinflação mais colapso econômico do país indicam que a cada dia é mais difícil", declarou.
Por essa razão, a oposição está tentando que "a instituição armada entenda que tem ser parte da solução e não parte do problema", e isso significa "dar viabilidade a que isto termine em uma eleição livre e democrática".
"Há um jogo trancado", admitiu, ao assegurar que "a única coisa" que sustenta Maduro é a Força Armada Nacional Bolivariana (FANB), "ou seja, a força", acrescentou.
Nas últimas semanas, a afirmação de Guaidó de que "todas as opções estão sobre a mesa" foi interpretada como uma forma de abrir a porta a uma eventual intervenção militar estrangeira.
No entanto, Capriles assegurou que há setores radicais da oposição que estão invocando essa opção para atacar Guaidó.
"Guaidó é um democrata nato. Eu, desde o primeiro momento que me perguntaram sobre Juan Guaidó, disse que foi uma extraordinária surpresa positiva", comentou.
Além disso, afirmou que há um "grupinho, que é o mesmo de sempre, muito ativo nas redes sociais", que quer "desinflar e debilitar" Guaidó porque "considera que a única maneira de poder ter alguma relevância no país é pela destruição dos partidos políticos".
Por fim, Capriles considerou que Maduro aposta que "a oposição desinfle, que nada mude no país e que os venezuelanos sigamos sobrevivendo". EFE
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