"Blecautes democráticos" não vencem a polarização na Venezuela
Héctor Pereira.
Caracas, 31 mar (EFE).- Nayibe e Dinora são duas venezuelanas de ideologias políticas contrárias e, embora elas não se conheçam, usam os mesmos adjetivos para descrever como foram os últimos dias nos bairros de Caracas em que vivem, em meio aos frequentes blecautes que deixaram ambas sem água, telefone e internet.
As duas, cada uma pelo seu lado, participaram neste sábado nas manifestações convocadas pelo governo e pela oposição no meio da crise elétrica que paralisou o país durante 10 dias este mês, sem que o fluxo de energia tenha sido estabilizado totalmente.
Nayibe López tem 50 anos e ontem marchou pelo centro de Caracas para respaldar o presidente Nicolás Maduro que, em sua opinião, trava uma "guerra" contra a oposição à qual atribui a autoria das "sabotagens elétricas".
Ao ser perguntada sobre como viveu os blecautes que começaram em 7 de março, Nayibe disse: "Foi terrível, um blecaute é terrível em uma comunidade, em uma casa, porque não temos água, não temos luz, estamos incomunicáveis por telefone, estamos incomunicáveis em muitas coisas".
Diante deste panorama, a jovem avó que vive no sudoeste de Caracas mostra uma postura combativa. "Mas isto não é nada para nós os venezuelanos", bradou.
"Vamos combatendo a guerra, vamos vencer este bloqueio e toda esta guerra contra todos nós", acrescentou, repetindo o discurso proferido diariamente pelos altos dirigentes da chamada revolução bolivariana.
Dinora Guanipa, por sua parte, participou de um dos protestos convocados pelo líder opositor Juan Guaidó, reconhecido como presidente em exercício da Venezuela por cerca de 60 países, contra os blecautes pelos quais responsabiliza o chavismo governante.
Ter acumulado mais de cem horas sem luz no último mês foi "horrível", segundo eesta assistente social de 60 anos que vive no oeste de Caracas.
"Ainda estamos vivendo os blecautes (...), me estragaram uma geladeira, me danificaram cinco lâmpadas", contou à Agência Efe a mulher que vê uma solução para a crise no plano traçado por Guaidó para tirar Maduro do poder.
A opositora assegura que as pessoas "de bairro" apoiam Guaidó, pois querem uma mudança da situação atual, com salários de seis dólares mensais e problemas para mandar seus filhos à escola por falta de alimentos e de transporte.
Na mesma antítese ideológica se encontram Lili Luján e Isabel Rivas, que também participaram das atividades de rua do chavismo e da oposição, respectivamente.
Luján, de 54 anos, assegura que está aguentando "esta sabotagem que há contra o governo" e que isso não abala seu apoio à revolução bolivariana que exerce o poder desde 1999.
"Com Maduro tudo, sem ele nada", reiterou a mulher que diz ter se preparado para estes blecautes anunciados pois, desde que ocorreu o primeiro deste mês, o oficialismo advertiu que haveria novos ataques ao sistema elétrico.
Por outro lado, a septuagenária Rivas pensa que os cortes elétricos não se devem a "nenhuma sabotagem", mas a uma "falta de manutenção", como alegam os críticos de Maduro e vários especialistas na matéria.
A antichavista afirma que a intermitência no fornecimento de energia lhe afetou "muitíssimo", até o ponto em que passa os dias mergulhada em "ansiedade" e "angústia".
"Não temos água, não temos elevadores, os alimentos estragam, os aparelhos elétricos também (...) e também não há dinheiro, os alimentos não chegam nos supermercados", relatou a caraquenha que também clama por uma mudança no país.
Os testemunhos destas quatro mulheres se repetiram, expressados em outras palavras, nas manifestações que se desenvolveram pacificamente neste sábado em Caracas e no interior do país.
Ao final do dia Nayibe, Dinora, Lili e Isabel, submetidas à mesma escuridão no último mês, voltaram aos seus lares com a certeza de um vindouro racionamento programado de eletricidade que já foi anunciado pelo Executivo como uma medida de combate à crise. EFE
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