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Em encontro com Putin, Kim buscará apoio para seu modelo de desarmamento

23/04/2019 22h49

Andrés Sánchez Braun.

Seul, 24 abr (EFE).- O líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, realizam nesta quinta-feira aquela que será sua primeira cúpula, que pode ajudar Pyongyang a somar apoio à sua proposta de desnuclearização gradual, rejeitada por enquanto pelos Estados Unidos.

Kim entrou nesta quarta-feira (data local) em um trem, seu sistema de transporte preferido, para dirigir-se até Vladivostok, o local da cúpula, onde deve chegar durante a noite de hoje.

O líder norte-coreano viaja acompanhado, entre outros, do ministro das Relações Exteriores, Ri Yong-ho, e dois vice-presidentes do Comitê Central do Partido do Trabalho da Coreia, Kim Phyong-hae e O Su-yong, segundo informou a agência norte-coreana "KCNA".

Há oito anos que líderes da Rússia e da Coreia do Norte não se reúnem, desde que em 2011 Kim Jong-il, pai do atual líder norte-coreano, viajou à Rússia para encontrar o então presidente Dmitri Medvedev.

Essa é a melhor prova da virada ocorrida nas últimas décadas na relação destes dois vizinhos que foram estreitos aliados durante a Guerra Fria, período durante o qual o suporte econômico soviético praticamente subvencionou a existência do regime dos Kim.

Com a queda da cortina de ferro e após décadas de astutas manobras para explorar as diferenças entre a Rússia e a China e tirar proveito de ambas frentes, Pyongyang se inclinou pelo único vizinho comunista que lhe restava.

Os intercâmbios comerciais com a hoje gigantesca China - com quem a Coreia do Norte compartilha uma fronteira quase 1.000 vezes mais longa que a que tem com a Rússia - substituíram Moscou como principal sustento econômico para um país que ainda é um dos mais isolados do mundo.

No entanto, desde 2018 essa dinâmica de "estado ermitão" mudou em Pyongyang, envolvida agora em uma nova aproximação com Seul e tentando conseguir que Washington aceite, sem sucesso até o momento pelo que foi visto em Hanói (sede da cúpula entre Donald Trump e Kim, em fevereiro), um desarmamento atômico gradual para começar a se safar de sanções que estão afogando sua economia.

É nesta conjuntura que o regime norte-coreano decidiu aceitar o convite que Moscou lhe transmitiu originalmente em maio, há praticamente um ano.

Os analistas concordam em assinalar que o atual sistema de sanções deixa muito pouca margem de manobra para que a Coreia do Norte consiga tirar algo tangível deste encontro.

No entanto. a cúpula pode servir a Kim Jong-un para transmitir a Washington, e inclusive a Pequim, a ideia de que seu regime vai lançar mão de interlocutores adicionais para garantir sua sobrevivência, uma sobrevivência que também interessa a Moscou para evitar uma hipotética presença dos EUA no seu pátio traseiro.

Dado que o Kremlin parece mais inclinado a um processo de desarmamento gradual como o que tenta impulsionar Pyongyang, Kim pode pelo menos obter garantia de palavra de Putin que Moscou seguirá defendendo o relaxamento de sanções de maneira progressiva.

Além de uma mensagem política, alguns acreditam que a Coreia do Norte poderia conseguir ainda algum pacote de ajuda humanitária russa não sujeito a sanções e propor a possibilidade de que Moscou não expulse os 10.000 trabalhadores norte-coreanos que ainda permanecem no país vizinho.

Em linha com as sanções da ONU, a Rússia deve expulsar todos estes trabalhadores - uma importante fonte de financiamento para o regime - antes do próximo dia 22 de dezembro, algo que seguramente não terá remédio a não ser que o diálogo entre EUA e Coreia do Norte passe por uma grande reviravolta nos próximos meses. EFE