Promotor peruano nega que ex-representante da Odebrecht tenha eximido García
São Paulo, 23 abr (EFE).- O chefe do Ministério Público do Peru para o caso Lava Jato, Rafael Vela, negou nesta terça-feira que o ex-representante da Odebrecht, Jorge Barata, tenha eximido o falecido ex-presidente Alan García no interrogatório ao qual foi submetido para esclarecer os crimes da construtora nesse país.
Vela classificou como "versões políticas alheias à parte técnica" as afirmações de parlamentares do Partido Aprista, ao qual pertencia García, de que Barata teria eximido o ex-governante (1985-1990 e 2006-2011) de forma "contundente".
O ex-presidente se suicidou na quarta-feira passada depois que agentes da polícia chegaram em sua casa em Lima para detê-lo por sua suposta vinculação com o esquema de corrupção da Odebrecht.
No primeiro dia de depoimentos, que se estenderão até sexta-feira em Curitiba, Barata respondeu a perguntas tanto do Ministério Público como dos advogados de defesa dos investigados e confirmou que a Odebrecht repassou dinheiro à campanha política de García, mas também às de Keiko Fujimori, Pedro Pablo Kuczynski, Ollanta Humala, Lourdes Flores Nano e Susana Villarán.
No entanto, o ex-diretor revelou que nenhum candidato ou líder político pediu diretamente dinheiro para tais campanhas.
"Estamos muito satisfeitos, a diligência foi bastante fluente. A colaboração do senhor Barata foi sem restrições", afirmou Vela à imprensa, acrescentando que os testemunhos e documentos apresentados pelo ex-representante "vêm comprovando a hipótese de investigação" formulada pelo Ministério Público.
O promotor detalhou ainda que o ex-diretor da Odebrecht se comprometeu a entregar nas próximas semanas "4.000 páginas de informação proveniente" dos sistemas My Web Day e Drousys, através dos quais a construtora brasileira solicitava, processava e controlava as operações para o pagamento de subornos.
No entanto, Vela explicou que, no interrogatório desta terça-feira, foi proibido fazer perguntas que implicassem pessoas cujas "defesas técnicas" não estivessem presentes.
Dessa forma, Barata deverá contestar nesta quarta-feira a "todas as perguntas que têm vinculações" com os aspectos "de caráter político", sempre e quando os advogados defensores estejam presentes.
No último dia 16 de fevereiro, os promotores peruanos assinaram em São Paulo um acordo no qual a Odebrecht se dispôs a entregar documentos "valiosos" e a pagar 610 milhões de soles peruanos (cerca de R$ 725 milhões) ao governo do país andino pelos subornos realizados.
A Odebrecht admitiu ter pagado subornos para adjudicar quatro grandes obras de infraestrutura no Peru, entre 2005 e 2014, assim como ter apoiado campanhas eleitorais de várias figuras políticas no país.
Entre fevereiro e abril, a equipe de promotores tomou os testemunhos de vários ex-executivos da Odebrecht em uma série de interrogatórios que deverá concluir na próxima sexta-feira, quando termina o depoimento de Barata. EFE
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