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Pedra no sapato de PP e PSOE, Catalunha vira tema-chave na eleição da Espanha

25/04/2019 08h10

Alida Juliani.

Madri, 25 abr (EFE).- A Catalunha e a unidade territorial da Espanha terão grande importância nos resultados das eleições legislativas do próximo domingo, que definirá o novo governo do país após um mandato de apenas dez meses do Partido Operário Socialista Espanhol (PSOE), liderado por Pedro Sánchez.

A Catalunha foi a pedra no sapato de Mariano Rajoy, ex-presidente do governo, e também foi diretamente responsável pela queda do ex-líder do Partido Popular (PP) do poder, já que os partidos independentistas da região apoiaram a moção de censura de Sánchez que levou o PSOE de volta ao poder.

As concessões aos separatistas catalães, no entanto, tiveram um preço e motivaram a derrota do PSOE nas eleições regionais da Andaluzia, no sul do país. Após 40 anos sendo comandada pelos socialistas, agora a região tem um governo de centro-direita, apoiado pelo Vox, partido extremista que deve chegar pela primeira vez ao parlamento nacional depois das eleições de domingo.

O temor quanto uma possível ruptura da unidade da Espanha foi determinante nas eleições regionais do ano passado e continuará a ter um papel muito importante no pleito do próximo domingo, segundo o analista Lluís Orriols, professor de Ciência Política da Universidade Juan Carlos I, em Madri.

Para Orriols, o assunto influenciará os eleitores na hora do voto e também foi responsável por provocar a divisão da direita na Espanha, abrindo espaço para o crescimento de partidos como o Vox.

"Não é por acaso que a direita se rompeu pela primeira vez em décadas", disse o analista, citando as mudanças no campo conservador, até então controlado pelo Partido Popular.

"O que rompeu a barreira não foram só os escândalos de corrupção (do PP), mas também a crise catalã", afirmou Orriols.

O professor disse que o processo de ruptura começou em 2018, após a tentativa da Catalunha de se tornar independente em outubro de 2017. Na ocasião, Rajoy recorreu ao artigo 155 da Constituição, que dá ao governo central poder para assumir a responsabilidade de controlar as instituições autônomas regionais.

"Foi quando a direita começou a se romper, e o (partido) Ciudadanos começou a ganhar votos. Depois, a extrema-direita entrou no cenário político com o Vox", explicou o analista.

Orriols prevê que os eleitores decidirão seus votos a partir de dois eixos fundamentais: a ameaça da ultradireita e as políticas sociais.

"Uns, da esquerda, usarão a dicotomia de ou nós governamos ou a extrema-direita. Já a direita estará envolvida na disputa em torno da identidade nacional", analisou.

Segundo pesquisas recém divulgadas pela imprensa espanhola, cerca de 80% dos eleitores consideram que a Catalunha será um dos temas fundamentais na escolha dos candidatos.

No entanto, levantamento feito pelo órgão estatal CIS no fim de fevereiro mostrou que os espanhóis estão menos preocupados com a independência da região. A separação da Catalunha caiu da sétima para a 11ª posição em uma lista de temas que alarmam os espanhóis, depois de temas como o desemprego e a corrupção.

"Se considerarmos a preocupação com a unidade da Espanha que havia no fim de 2017, isso, sem dúvida, diminuiu. Mas o eixo nacionalista se mantém ativo, não é um vulcão adormecido. E continuará ativo até as eleições", afirmou Orriols.

Enquanto PP, Ciudadanos e Vox insistem sobre a questão da Catalunha na campanha, o PSOE optou por evitar o tema. Sánchez, no entanto, reitera em seus discursos que nunca aceitará a separação.

No entanto, o atual presidente do governo da Espanha deve continuar precisando do apoio dos partidos independentistas da Catalunha para permanecer no poder.

Para que isso não ocorra, o PSOE precisa também de um bom desempenho do Unidas Podemos, o segundo principal partido de esquerda no país, ou formar uma improvável aliança com os Ciudadanos.

"Isso ainda não está claro. É provável que sejam necessários particularmente os parlamentares da Esquerda Republicana (ERC), a quem as pesquisas dão a vitória na Catalunha", disse. EFE