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Putin condiciona diálogo com Ucrânia ao cumprimento dos acordos de Minsk

25/04/2019 10h29

Vladivostok (Rússia), 25 abr (EFE).- O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse nesta quinta-feira que está disposto a restabelecer em 100% as relações com a Ucrânia, mas que isto dependerá da política de Kiev, que, segundo Moscou, não cumpre com os acordos de Minsk.

"Queremos e estamos dispostos a restabelecer totalmente as relações, mas não podemos fazer isto de forma unilateral. Vamos observar pelo menos os primeiros passos", afirmou Putin em entrevista coletiva em Vladivostok depois de se reunir com o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un.

Nesse sentido, Putin disse: "Se as autoridades ucranianas encontrarem forças para cumprir com os acordos de Minsk, então nós apoiaremos isto ao máximo e faremos o possível para normalizar a situação no sudeste da Ucrânia".

O presidente russo afirmou que os resultados das últimas eleições na Ucrânia, nas quais venceu o comediante Vladimir Zelenski, mostram o "fracasso total das políticas de (Petro) Poroshenko", o atual presidente que foi derrotado no pleito.

"Estou convencido de que as novas autoridades não podem não entender essa mensagem", acrescentou o presidente russo.

No entanto, segundo Putin, "entender é uma coisa, e realizar uma política realista, que responda aos interesses do povo, é outra".

Ao ser questionado sobre o decreto emitido ontem para a entrega expressa de passaportes russos aos residentes pró-Rússia das autoproclamadas repúblicas populares de Lugansk e Donetsk, Putin afirmou que "não era sua intenção provocar" o presidente eleito Zelenski.

"É estranho que decisões como esta despertem reações negativas em alguém", afirmou Putin, que lembrou que, há muito tempo, a Polônia concede documentos de identidade poloneses aos ucranianos, e que Romênia e Hungria entregam passaportes.

Putin questionou por que os russos que vivem na Ucrânia têm que ser vistos como inferiores a romenos, poloneses e húngaros.

"Não vejo nisto (entregar passaportes) nada de estranho. Estranho é o fato de muitos países vizinhos da Ucrânia fazerem o mesmo há muitos anos enquanto a Rússia não pode fazê-lo", questionou o chefe de Governo russo.

Moscou decidiu ontem conceder de forma expressa a cidadania aos residentes pró-Rússia do conflituoso leste da Ucrânia para "defender seus direitos", o que foi qualificado em Kiev de "golpe" contra o processo de paz e provocou pedidos à comunidade internacional para aumentar as sanções contra o governo russo.

Segundo o decreto assinado por Putin, os residentes permanentes das autoproclamadas e separatistas repúblicas de Donetsk e Lugansk, na região ucraniana de Donbass, têm direito a obter a cidadania russa "em um prazo de no máximo três meses" a partir do dia de entrega do pedido.

A Ucrânia respondeu imediatamente, qualificando a decisão de "provocação", "agressão", "tentativa de anexação de Donbass" e reconhecimento por parte da Rússia de "sua responsabilidade na qualidade de país ocupante".

Kiev considera que isso pode servir como desculpa para uma futura intervenção militar russa na região ou para que os confrontos derivem em conflitos "frios" semelhantes aos das regiões separatistas de Abkházia e Ossétia do Sul, na Geórgia; e Transnístria, na Moldávia, nas quais a Rússia concedeu unilateralmente sua nacionalidade aos separatistas locais.

Tanto Poroshenko como a equipe de Zelenski fizeram pedidos à comunidade internacional para intensificar a pressão diplomática e a coerção contra o Kremlin, a quem acusam de provocar o conflito no leste da Ucrânia e minar o processo de paz na região. EFE