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Após ter sido destruído pelo EI, mercado mais antigo de Mossul volta à vida

30/04/2019 06h01

Yáser Yunis.

Mossul (Iraque), 30 abr (EFE).- Quase dois anos depois de os jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI) terem sido expulsos de Mossul, que foi a capital de fato do "califado" no Iraque, o mercado mais antigo da cidade volta à vida após ter sido totalmente destruído pelos extremistas.

Tecidos de todas as cores voltam a estar expostos nas lojas, onde as peças são vendidas por atacado, mas os moradores da região ainda se queixam porque dizem que reconstruíram o estabelecimento por conta própria, sem contar com a ajuda do governo iraquiano.

"Reconstruímos e devolvemos aos comerciantes suas lojas", disse à Agência Efe Radwan al Shabjun, dono de um dos estabelecimentos do mercado de Bab Al Sarai e cuja família possui esse local há mais de 400 anos.

O mercado está localizado no oeste de Mossul, que ficou totalmente em ruínas após nove meses de ofensiva que acabou em julho de 2017 com a expulsão dos terroristas.

"As autoridades eximiram durante seis meses os comerciantes inquilinos de pagar o aluguel para que voltassem ao mercado, a fim de incentivar os demais comerciantes e restabelecer assim o movimento comercial, que não existiu durante os anos de guerra", explicou Al Shabjun.

Samir al Nuaimi, um morador do centro histórico de Mossul, a última área na qual as forças iraquianas, respaldadas pela coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos, entraram para expulsar os jihadistas, aproveita a reabertura para passear no mercado, que fica no coração da cidade.

"A melhor notícia que recebi foi a inauguração do mercado de Bab Al Sarai e Bab Al Tub depois da sua reconstrução", disse Al Nuaimi à Efe.

Depois de ficar fechado por conta da guerra, o comércio voltou a funcionar e as lojas começaram a abrir pouco depois de os radicais terem sido derrotados após se entrincheirarem nas últimas ruas do centro histórico.

Agora, a situação de segurança melhorou relativamente, apesar de continuar havendo ataques esporádicos por parte de células isoladas da organização extremista.

Por sua vez, Bashir Nasrala, dono de uma das lojas, afirmou que dois anos depois (da expulsão do EI) os mercados da zona oeste de Mossul estavam abandonados.

"Com o nosso esforço pessoal e de outros moradores e do dono do edifício, conseguimos reconstruir nossas lojas", destacou.

Omar Emad Shokr, outro dos proprietários de uma das lojas de tecidos, comentou que o governo participou da reinauguração do mercado, que aconteceu no último domingo.

Omar espera agora o retorno de "todos os demais comerciantes que foram aos mercados antigos da zona leste de Mossul".

A cidade de Mossul é dividida em duas pelo rio Tigre e a parte leste foi a primeira a ser libertada, uma área que não sofreu tanta destruição como a oeste, na qual milhares de pessoas morreram e ficaram feridas.

O prefeito de Mossul, Zuhair al Aarayi, explicou à Efe que a Câmara Municipal formou um comitê para a reconstrução, além de uma junta de antiguidades e planejamento urbanístico encarregada de conceder permissões de construção, de acordo com o estilo da arquitetura local, que tem centenas de anos.

A prefeitura chegou a um acordo com os lojistas e deu "liberdade" para realizarem obras no interior dos seus estabelecimentos, desde que respeitem "as fachadas, que seguirão um critério do comitê de patrimônio arquitetônico" da cidade.

Por outro lado, Aarayi criticou o governo central iraquiano porque não faz o que deve fazer para ajudar os habitantes afetados pela guerra.

"Existe um grande ressentimento por parte do povo da cidade por não receber indenizações", ressaltou. EFE