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Strache, o líder da ultradireita da Áustria que caiu em desgraça

18/05/2019 08h34

Jordi Kuhs.

Viena, 18 mai (EFE).- O líder ultranacionalista Heinz-Christian Strache, agora ex-vice-chanceler da Áustria, é um técnico dentário de 49 anos, cuja carreira política acabou após a divulgação de um vídeo no qual é visto prometendo em 2017 - então como líder da oposição - favores políticos a uma suposta magnata russa em troca de doações.

Presidente do Partido Liberal da Áustria (FPÖ), com uma dura postura xenófoba e eurocética, HC Strache, como é chamado por seus apoiadores, formou em 2017 uma coalizão com o Partido Popular (ÖVP) e entrou assim pela primeira vez no governo da república alpina.

Durante anos, o FPÖ tinha se apresentado como o único partido "patriótico" e "limpo" que trabalha a favor das pessoas.

No vídeo, divulgado por meios de comunicação alemães, Strache é visto em uma mansão em Ibiza prometendo a uma suposta magnata russa contratos públicos e ajuda para comprar o "Kronenzeitung", o jornal mais influente da Áustria, em troca de doações milionárias para seu partido.

Strache tinha chegado à cúpula do partido em 2005 quando seu então líder, Jörg Haider (falecido três anos mais tarde em um acidente de carro), fundou uma nova legenda populista de direita, deixando para trás o núcleo mais duro e nacionalista do FPÖ.

O político assumiu as rédeas de um partido em decadência, que saiu debilitado e dividido de uma coalizão com o ÖVP e que tinha desabado até apenas 3% de intenções de voto.

Em pouco tempo, Strache conseguiu estabilizar o partido e direcioná-lo a uma ascendente conquista de apoio popular, sobretudo entre trabalhadores menos qualificados, jovens sem estudos e nas zonas rurais.

Sucessivamente, Strache conseguiu melhorar os resultados eleitorais da sua legenda, em nível federal e regional, até conseguir a terceira posição da disputa nas eleições de outubro de 2017, com 26% dos votos.

O FPÖ viu sua popularidade crescer durante a crise migratória na Europa, que levou à Áustria 120.000 refugiados e imigrantes do Oriente Médio e da África entre 2015 e 2017.

No centro do seu discurso e programa sempre esteve a "pátria austríaca", os "valores nacionais e cristãos" e a luta contra a imigração, especialmente a muçulmana.

A boa recepção entre os austríacos da sua mensagem de fronteiras fechadas, contra o islamismo e de corte de direitos aos imigrantes fez com que os dois partidos dominantes do país, o social-democrata SPÖ e o ÖVP, também endurecessem seu discurso.

Após a vitória eleitoral do ÖVP em 2017, Strache forjou com o líder democrata-cristão Sebastian Kurz uma coalizão.

Strache iniciou sua politização na extrema direita e em ambientes neonazistas.

Nesta mesma semana, um conhecido líder neonazista austríaco insinuou dispor de informação comprometedora sobre o passado extremista do até hoje vice-chanceler na década de 1980.

O próprio Strache sempre tentou distanciar-se do seu passado e também das raízes nazistas do FPÖ, um partido fundado nos anos 1950 por antigos nacional-socialistas austríacos.

Para isso, viajou várias vezes a Israel, onde se reuniu com políticos de direita, enquanto tentava ganhar a confiança da comunidade judaica local, sobretudo com um discurso duro frente ao islamismo antissemita.

Casado pela segundava desde 2016 com uma ex-modelo e jornalista 20 anos mais jovem que ele, Strache viu como sua imagem mudou de um líder jovial e dinâmico, que gostava de ser visto nas principais discotecas do país, para a de um político mais sério.

O líder direitista tem dois filhos de seu primeiro casamento, enquanto com a sua mulher atual teve este ano um terceiro filho. EFE