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Moldávia se divide entre dois governos em uma espiral de incerteza

09/06/2019 15h04

Moscou, 9 jun (EFE).- A Moldávia mergulhou neste domingo em uma grave crise política após a instauração de dois governos paralelos que deixa de lados opostos os principais partidos do país, sem que por enquanto se preveja uma saída.

A situação se agravou quando o Partido Socialista e o bloco direitista pró-Europa Acum alcançaram um acordo neste sábado e formaram um novo governo, o que foi rejeitado categoricamente pelo Partido Democrático (PDM) com o aval do Tribunal Constitucional.

O principal argumento contra o novo governo radica no fato de que foi formado quando supostamente já tinha expirado o prazo.

Nesse sentido, o governo anterior, liderado por Pavel Filip, classificou as novas autoridades como usurpadoras e traidoras a serviço de potências estrangeiras, segundo informaram da capital do país, Chisinau, agências de notícias moldávias e russas.

O PDM apoia sua rejeição no Tribunal Constitucional, que dois dias atrás deu por encerrado o prazo para a criação de uma aliança e opinou que o presidente do país, Igor Dodon, líder dos socialistas, deveria dissolver o parlamento.

No entanto, Dodon, que denuncia vínculos entre o Constitucional, o PDM e a oligarquia local, optou por dar uma última oportunidade aos legisladores para carimbar um acordo e convidou representantes diplomáticos de Rússia, Estados Unidos e União Europeia (UE) à sessão do parlamento para garantir o respaldo da comunidade internacional.

Após a criação do novo governo, o Constitucional reiterou que o parlamento não tinha poder legal algum, decretou a cessação temporária de Dodon e a dissolução do Legislativo, e designou Filip como presidente interino do país.

Este, imediatamente depois, anunciou eleições parlamentares antecipadas para o próximo dia 6 de setembro, atiçando ainda mais a disputa política.

Dodon classificou as decisões do Constitucional e de Filip de tentativas de usurpação do poder e pediu que a comunidade internacional faça a mediação da crise política na qual se encontra imerso esse pequeno país encravado entre a Ucrânia e a Romênia.

O parlamento, por sua parte, declarou que o governo anterior "perdeu a confiança, tanto do seu próprio povo, como dos seus parceiros estrangeiros, ao escolher a rota da instabilidade e da violência".

O Legislativo declarou então a ilegalidade do governo anterior e exigiu que o PDM "retire seus mercenários das entidades estatais".

A recém-eleita primeira-ministra, Maia Sandu, do Acum, defendeu a normalização do trabalho das entidades estatais e pediu apoio para o novo governo aos funcionários públicos.

"O governo legítimo recém-eleito tem a intenção de libertá-los das pressões e chantagens para que possam cumprir livremente seus deveres profissionais", disse Sandu, denunciando que durante os últimos anos o PDM subordinou o Estado a seus interesses.

Sandu classificou esta situação de "anormal para um Estado democrático" e prometeu "livrar as instituições do controle político para que os funcionários possam cumprir suas obrigações apenas com base na lei e sem pressões".

"O país atravessa esta difícil situação devido ao fato de que as autoridades anteriores da oligarquia não querem se retirar voluntariamente e tentam implicar as instituições no seu jogo sujo", acrescentou.

Desde a noite de sábado, os apoiadores do Partido Democrático tentam bloquear as instituições estatais para impedir que o novo governo possa começar a trabalhar.

Além disso, foi convocada uma manifestação na qual, segundo estimativas dos organizadores, participaram cerca de 30.000 pessoas, mas que, de acordo com outras fontes, não superou 10.000 participantes e durou menos de uma hora.

No meio da troca de acusações, o inspetor geral da polícia local, Alexander Pinzar, declarou sua fidelidade ao governo anterior e afirmou que "a polícia se rege pelas leis".

Por sua parte, a Anistia Internacional denunciou a inação da polícia, que não evitou as agressões nos espaços públicos contra jornalistas e ativistas políticos.

Já a União Europeia expressou sua postura a respeito do conflito em uma declaração conjunta da alta representante comunitária para Política Externa e Segurança, Federica Mogherini, e do comissário europeu de Ampliação e Vizinhança, Johannes Hahn.

"A UE avalia positivamente as decisões aprovadas no sábado na Moldávia, incluindo a criação de uma coalizão de governo. A UE está disposta a trabalhar com o governo democrático e legítimo com base no apego mútuo às reformas e princípios básicos fixados no nosso Acordo de Associação", ressalta a nota.

A Rússia também não ficou à margem da situação, já que o senador russo Alexey Pushkov criticou as ações do PDM e as classificou de "tentativa de golpe de Estado".

"Na qualidade de aríete contra o presidente (Dodon), utilizam um Tribunal Constitucional fraudulento. Assim que os liberais pró-Ocidente se veem perdidos, são capazes de violar a lei para conservar o poder", lamentou. EFE