De perfil internacional, Tokayev é escolhido para liderar transição cazaque

Ignacio Ortega.

Nursultan, 10 jun (EFE).- Um homem que rodou o mundo, se formou em Moscou, aprendeu chinês em Pequim e trabalhou na ONU. Assim é o presidente eleito do Cazaquistão, Qasim-Yomart Tokayev, e o escolhido pelo "pai da nação", Nursultan Nazarbayev, para comandar a transição na maior república da Ásia Central.

"É uma honra e meu dever sagrado continuar o caminho traçado pelo primeiro presidente. O rumo estratégico definido pelo líder nacional será nossa estrela guia", disse Tokayev após assumir o poder em março.

Tokayev, que venceu as eleições presidenciais de domingo com mais de 70% dos votos, conhece os três mundos nos quais se move o Cazaquistão como peixe na água, já que tanto russos como chineses e ocidentais ambicionam de forma igual os enormes recursos naturais deste país.

Além disso, aos 66 anos, Tokayev é garantia de lealdade, estabilidade e de defesa dos 30 anos de legado de Nazarbayev. E é quem trabalhou sob seu comando "desde os primeiros dias da independência", após a queda da União Soviética.

"Acredito que Tokayev seja justamente a pessoa à qual podemos confiar a gestão do Cazaquistão. É um homem honesto, responsável e que cumpre o que fala", disse Nazarbayev no mesmo dia em que renunciou à Presidência.

Os cazaques não entenderam porque Nazarbayev não nomeou herdeira sua filha, Dariga. Mas por ser mulher, seria um passo grande demais na ultraconservadora sociedade cazaque, e também pelo fato de que teria sido interpretado como um caso de nepotismo para um líder e um país que querem promover uma abertura.

Tokayev será o encarregado nos próximos anos de abrir o caminho para a transição de um sistema parlamentar para um presidencialista, alinhado com as demandas do Ocidente, mas sem virar as costas para as tradições nacionais nem criar inquietações com reformas democráticas radicais em aliados como Rússia e China.

"Não precisamos de tumultos e distúrbios. Conhecemos muito bem a história da União Soviética", disse o presidente eleito.

Tokayev é um clássico produto da diplomacia soviética, já que foi em Moscou que se formou em Relações Internacionais em 1975, embora tenha completado sua formação na academia diplomática russa em 1992.

Filho de um famoso escritor e herói de guerra, Tokayev estava destinado a ter uma brilhante carreira política como funcionário no ministério de Exteriores da União Soviética, mas a queda do sistema comunista atrapalhou seus planos, como os de muitos outros.

Chegou a trabalhar como terceiro secretário da Chancelaria soviética nas embaixadas de Singapura (1975-1979) e China (1985-1991), etapa na qual aprendeu mandarim.

Como mostra da confiança que tinha nele, Nazarbayev foi à sua nomeação como ministro de Exteriores em 1994 e após cinco anos no cargo foi eleito primeiro-ministro, posto de onde freou as vontades reformistas da nova classe de funcionários públicos cazaques.

Após cumprir tal missão, retornou a sua função original. Durante outros quatro anos foi chefe da diplomacia cazaque (2003-2007) e após vários anos de pausa no Parlamento local, foi para a arena internacional.

Durante dois anos (2011-2013) foi secretário-geral adjunto das Nações Unidas e diretor-geral do Escritório da ONU em Genebra.

Após ser nomeado presidente em março, Tokayev afirmou que uma das prioridades do seu mandato seria reforçar a cooperação estratégica com a China, o segundo maior parceiro comercial do Cazaquistão.

Nos últimos anos cresceu o descontentamento popular no Cazaquistão devido ao crescente controle dos principais ativos do país por parte do gigante asiático, por isso que o domínio fluente do mandarim será crucial para Tokayev acalmar os parceiros chineses e aparar arestas em caso de necessidade.

O presidente eleito deverá manter um equilíbrio aparentemente impossível entre Rússia e Ocidente. Nazarbayev conseguiu se sair bem com todas as grandes potências. Um exemplo do fato é que, apesar da boa relação com o presidente russo, Vladimir Putin, nunca reconheceu a anexação russa da Crimeia.

"Nossos laços com a Rússia são indestrutíveis. Estamos condenados a sermos amigos", afirmou o novo presidente.

Tokayev deverá continuar essa política de neutralidade, ao mesmo tempo em que satisfaz as necessidades de hidrocarbonetos de seus parceiros e atrai seus investimentos para transformar o Cazaquistão no gigante asiático que previu seu antecessor.

Para isso, terá cinco anos de mandato, já que o contrato tácito que assinou com Nazarbayev estipula que não pode se eternizar no poder e que deve abrir caminho para o futuro novo chefe de governo. EFE