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Estrela do rock entra para cenário político da Ucrânia

15/06/2019 06h01

Nadjejda Vicente.

Kiev, 15 jun (EFE).- Depois de o humorista Vladimir Zelenski se tornar presidente da Ucrânia, agora é a vez de uma estrela de rock brilhar na política. Svyatoslav Vakarchuk, líder da banda de rock Okean Elzy e um dos artistas mais conhecidos do país, se apresentou como candidato às eleições parlamentares como a voz das mudanças reais com o seu novo partido, o Holos.

Vakarchuk, de 44 anos, entra em cena com o apoio de uma equipe jovem de reformistas, ativistas anticorrupção e prestigiados jornalistas e cientistas da computação. A palavra "holos" em ucraniano significa tanto voz quanto voto.

O famoso cantor apresentou a seu equipe a apenas seis semanas das eleições antecipadas de 21 de julho para o Parlamento (Rada Suprema). No elenco há tantos mulheres quanto homens.

Com calça jeans, camisa básica e barba, Vakarchuk liderou a convenção do seu partido social-democrata e pró-europeu em um evento aberto no centro de Kiev. Depois disso, fez um show para o público.

A estrela de rock encarna o desejo de mudança dos ucranianos e o distanciamento da velha política, da mesma forma que o atual chefe de Estado, que ficou conhecido por uma série na qual vive um professor do ensino médio que fica famoso depois de fazer um vídeo que viraliza contra a corrupção e é eleito presidente.

"O maior valor do nosso partido é que queremos fazer mudanças reais no Parlamento. Não se trata só de trazer novas caras na Rada, mas também de reformar o sistema", disse Vakarchuk durante a convenção.

Já de acordo com Pavel Kukhta, diretor político do Holos, as recentes eleições mostram que os ucranianos não querem mais pessoas que usam a política para lucrar.

"Nós encheremos o vazio com novas políticas", disse ele.

Ao contrário de Zelenski, Vakarchuk não é um novato na política. Físico de formação, estudou política nos Estados Unidos e fez parte do Parlamento ucraniano em 2007. Desencantado com o que chamou de "pântano tóxico" e com a cultura da corrupção, renunciou ao cargo deputado um ano depois.

Apesar de muitos contarem com a sua candidatura para a presidência, ele escolheu cuidadosamente o seu retorno à política.

"O poder e a presidência como tal não me interessam. Agora, chegou a hora das mudanças reais," escreveu Vakarchuk no Facebook.

Segundo a pesquisa mais recente realizada pelo grupo sociológico Rating, o recém-formado partido Holos já tem 5% dos votos necessários para concorrer a uma cadeira no Parlamento. A formação acredita que aumentará essa porcentagem com o apoio de mais de 10 mil voluntários em todo o país.

O partido de Zelenski, "O Servo do Povo", lidera as pesquisas com o apoio de 48% dos eleitores decididos. Consciente do seu papel para que Zelenski possa formar governo, Vakarchuk declarou durante a convenção do partido que está pronto para fazer uma coalizão, mas só com forças políticas que compartilhem dos mesmos princípios.

Na Ucrânia existe um sistema eleitoral misto, segundo o qual a metade dos deputados é eleita por sistema de listas fechadas de partidos e a outra metade é escolhida por distritos majoritários.

O cantor-político embarcou em uma grande viagem pelo país, combinando comícios e shows. Vakarchuk sempre defendeu que não escreve canções políticas, mas sociais. Foi com uma bandeira ucraniana, ele apresentou em Kiev a sua nova canção, "Choven" (ou Barco, em tradução livre), uma ode a um país à deriva na qual fala que "a terra está cansada das guerras, mas ninguém ainda conseguiu rompê-la".

"Faremos todo o necessário para recuperar os territórios ocupados e para que nossos cidadãos, que a Rússia transformou em reféns, voltem a uma vida normal e digna", afirmou Kukhta.

Kukhta é um reformista, com experiência nas políticas de liberalização da Polônia e da Eslováquia.

"A Ucrânia tem tudo para se tornar um dos líderes regionais do espaço pós-soviético", defendeu.

O partido pretende também transformar a computação em um importante motor da economia com a redução de impostos, uma menor interferência por parte do governo e uma lei de liberdade digital.

"Vamos devolver a Ucrânia à família europeia e continuaremos o caminho para a integração da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) como membros pleno", afirmou. EFE