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Felipe VI completa 5 intensos anos como rei da Espanha

18/06/2019 20h30

Rafael Cañas.

Madri, 18 jun (EFE).- Felipe VI completa amanhã cinco anos como rei da Espanha, um período muito intenso da história do país e marcado pela instabilidade política, pelo desafio independentista da Catalunha e até pela prisão de um cunhado do monarca.

O rei foi coroado após a abdicação de seu pai, Juan Carlos I, no início de junho de 2014. Embora a medida tivesse sido muito trabalhada nas altas esferas políticas, o fato inédito na história contemporânea da Espanha pegou de surpresa todo o país

De acordo com Emilio Sáenz-Francés, historiador e professor da Universidade Pontifícia de Comillas, Felipe VI teve que enfrentar "os momentos mais difíceis da história democrática recente do país". Para ele, o episódio mais difícil que o rei enfrentou foi o discurso transmitido na TV em 3 de outubro de 2017, quando defendeu o respeito à Constituição espanhola, dois dias depois do referendo de autodeterminação organizado pelo governo da região da Catalunha e considerado irregular pela Justiça.

Nesse discurso, segundo o professor, o monarca teve "um papel primordialmente constitucional", mas houve falta de resposta do governo central, liderado pelo então presidente Mariano Rajoy, diante do desafio separatista e da proliferação de notícias na imprensa internacional. Para Sáenz-Francés, teria sido melhor "preservar a figura do rei como figura de consenso", em vez de colocá-lo na linha de frente do debate político por causa da ausência de resposta do governo.

Outro importante capítulo da monarquia nestes anos foi o julgamento pelo escândalo de corrupção que ficou conhecido como "caso Nóos", que terminou com a condenação de Iñaki Urdangarín - marido de uma das irmãs do rei -, que está preso há exatamente um ano e cumprirá pena de quase seis anos na prisão. Para o historiador, o caso e a sua conclusão foram demonstrações da vontade da monarquia de se renovar.

A instabilidade política foi outra das caraterísticas deste período. Foram três eleições gerais em três anos e meio.

A chegada de Felipe VI ao trono já foi complicada porque seu pai - que desfrutou de grande prestígio pelo compromisso com a democratização do país após a morte do ditador Francisco Franco, em 1975, e por se opor à tentativa de golpe de Estado militar de 1981 - tinha sofrido uma forte deterioração de imagem.

Em 2012, Juan Carlos I sofreu um acidente em Botsuana enquanto caçava elefantes, o que envolveu várias cirurgias e a revelação de uma amizade com a alemã Corinna zu Sayn-Wittgenstein. Tudo isso em um momento no qual a Espanha sofria a pior crise econômica da sua história recente, com índices de desemprego e pobreza desconhecidos para a grande maioria da população, e a sociedade exigindo mais exemplos das instituições, segundo o historiador.

De acordo com Sáenz-Francés, nestes cinco anos também houve um reforço do papel internacional da monarquia, com importantes viagens institucionais às Nações Unidas, a países da União Europeia e a participação em cúpulas ibero-americanas.

Neste sentido, a ex-ministra de Relações Exteriores argentina Susana Malcorra destacou o interesse do monarca espanhol pela América Latina e pelo Caribe, principalmente por questões que transcendem "o vai e vem da política", como "o desenvolvimento, a igualdade, a sustentabilidade e a educação".

Malcorra, que atualmente mora em Madri, ressaltou que conheceu muitos chefes de Estado, mas vê no rei "uma condição muito interessante no tratamento pessoal e de proximidade" que faz que "se mantenha envolvido" em "temas de transcendência", mas "sem ser invasivo no que não lhe compete por não ter responsabilidade Executiva.

A ex-ministra lembrou que começou a lidar com o monarca espanhol quando ele ainda era príncipe e ela exercia diversos postos no sistema da Organização das Nações Unidas (ONU). O que chamou sua atenção, segundo a ex-ministra, foi o nível de interesse e informação que ele tinha em assuntos internacionais.

Dentro dos atos pelos cinco anos de reinado, amanhã haverá um evento no Palácio Real, em Madri, no qual Felipe VI vai condecorar cidadãos e grupos de toda a Espanha considerados um exemplo da sociedade civil, com o objetivo de prestar homenagem a quem representa a vida cotidiana do país. EFE