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Manifestantes de Hong Kong iniciam campanha para denunciar violência policial

19/06/2019 09h01

Hong Kong, 19 jun (EFE).- A organização civil de Hong Kong que coordena os manifestantes anunciou nesta quarta-feira que começará nesta sexta-feira uma campanha em coordenação com advogados e representantes do movimento pró-democracia para apresentar queixas oficiais contra a polícia pelo uso da força durante os protestos.

Em entrevista coletiva na frente da sede do governo local, a vice-coordenadora da Frente Civil de Direitos Humanos, Bonnie Leung, afirmou que os legisladores e os partidos políticos vão "lutar contra as mentiras do governo".

"Estamos nos coordenando com advogados e testemunhas para nos queixar. Há diferentes ações em andamento. Por exemplo, houve policiais que atuaram sem identificar-se nos seus uniformes, o que dá uma ideia de que o sistema não está funcionando", disse Leung.

"As pessoas têm que saber a verdade. É a nossa prioridade", acrescentou.

Além disso, pediu à sociedade de Hong Kong que aproveite a manifestação anual de 1º de julho - data do aniversário da transferência da soberania sobre o território do Reino Unido à China - para voltar a exigir que a chefe de governo, Carrie Lam, retire definitivamente seu polêmico projeto de lei de extradição.

Por sua parte, o líder estudantil Joshua Wong declarou à Agência Efe que os estudantes estão agora preparando "assembleias e ações", em resposta à pergunta sobre se pretendem mobilizar-se em coincidência com a Cúpula do G20 nos próximos dias 28 e 29 de junho.

Já o legislador e ativista Eddie Chu garantiu que os estudantes iniciarão "ações" já nesta sexta-feira.

Lam, que às vésperas da histórica manifestação do domingo deixou "em suspenso" o controverso projeto de lei, se recusou a retirá-lo definitivamente, como lhe pediram naquele dia mais de um milhão de manifestantes.

Nesta quarta-feira, o secretário de Segurança do governo, John Lee, se desculpou pelas deficiências na hora de tratar a legislação proposta, mas eximiu a polícia da responsabilidade pelos enfrentamentos ocorridos.

A polícia dispersou há uma semana os protestos que aconteceram na sede do Legislativo usando gás lacrimogêneo e balas de borracha, o que deixou um saldo de 81 feridos.

"Sou também responsável pela proposta de lei. Da mesma forma que a chefe do governo, me desculpo por ter causado enfrentamentos sociais, conflito e medo. Mas a polícia foi ameaçada, a vida dos agentes foi ameaçada", ressaltou Lee no Conselho Legislativo ao tentar eximir os agentes, que "não tiveram outra opção que usar um nível de força mínima".

Por sua vez, o chefe de Segurança de Hong Kong, Stephen Lo, detalhou na segunda-feira que a polícia tinha detido 32 pessoas, das quais 15 participaram de "atos violentos". Dessas 15, cinco foram detidas por "provocar distúrbios".

Além disso, a associação da imprensa de Hong Kong afirmou na segunda-feira que a polícia causou ferimentos em 26 jornalistas e exigiu a Lam que abra um comitê independente para esclarecer os incidentes.

Lam pediu ontem aos moradores de Hong Kong que lhe deem "outra oportunidade" para que seu governo possa "reconstruir a confiança" após a crise suscitada.

O projeto de lei apresentado enfrenta a oposição de diversos setores da sociedade que consideraram que Hong Kong perderia sua independência judicial e que, segundo organizações de direitos humanos, permitiria que ativistas, funcionários de ONG e jornalistas fossem entregues a um sistema judicial, o chinês, que, segundo alegam, não oferece garantias. EFE