Topo

Índia investiga casos de extirpação de útero em cortadoras de cana

20/06/2019 10h38

Nova Délhi, 20 jun (EFE).- As autoridades da Índia investigam centenas de casos de extirpações de útero forçadas ocorridas em uma comunidade de mulheres cortadoras de cana-de-açúcar no oeste da Índia, o que ativistas atribuem às pressões pelo aumento de produtividade.

"Segundo um relatório prévio do estado de Maharashtra, foram realizadas mais de 4,5 mil histerectomias em hospitais privados na região nos últimos três anos. O Governo ordenou agora a formação de um comitê de investigação", disse à Agência Efe uma ativista da ONG indiana especializada em saúde Khan Swasthya Abhiyan, Shweta Marathe.

"O alto número de extirpações em uma comunidade tão específica e ao mesmo tempo difícil de delimitar pela ausência de contratos formais está relacionado com a pressão sobre estas mulheres por trabalhar sem erros", afirmou Marathe.

As trabalhadoras podem ter que pagar multas de 500 rúpias - cerca de 6,3 euros, o salário de todo um dia - se não comparecerem para cortar cana por um dia e, além disso, estar menstruada não é desculpa.

Por isso, afirmou a ONG pró-direitos das mulheres MAKAAN em comunicado de imprensa, "para se livrar das menstruações que se transformam em uma barreira para o trabalho e renda, estas mulheres optam pela histerectomia".

No entanto, esta ideia não caiu do céu, explicou a organização.

As mulheres que trabalham enquanto menstruam não são consideradas boas trabalhadoras e os empreiteiros chegam a dar dinheiro para que façam a extirpação do útero em hospitais particulares.

"Há um claro interesse comercial na relação entre a comunidade médica, os empreiteiros e os donos das usinas de açúcar", denunciou a MAKAAN.

Os ativistas denunciam que os médicos convencem as mulheres que já tiveram um ou dois filhos que o útero não tem mais valor ou se referindo a possíveis riscos como câncer ou inchaço irregular do útero.

A lamentável condição das mulheres, causada por uma má nutrição e as duras condições de trabalho, significa que elas já possuem problemas de saúde em qualquer caso, observou a ONG.

Segundo o comunicado, mulheres que ganham 10 euros diários acabam recorrendo a empréstimos ou inclusive a vender animais domésticos para custear uma operação que pode chegar a custar 30 mil rúpias (382 euros). EFE