Topo

Noiva de Jamal Khashoggi afirma que só a ONU pode investigar assassinato

25/06/2019 11h34

Isabel Saco.

Genebra, 25 jun (EFE).- Hatice Cengiz, noiva do jornalista saudita Jamal Khashoggi, assassinado dentro do consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia, foi nesta terça-feira à ONU para pedir justiça e expressar sua convicção de que não existe outro lugar fora desta organização capaz de realizar uma investigação independente sobre este crime.

"Na investigação que a Arábia Saudita diz estar fazendo foram eliminadas evidências, portanto não tem legitimidade. A ONU é a única via que resta", disse Cengiz, cuja presença coincide com a reunião do Conselho de Direitos Humanos em Genebra.

Convidada pela ONG No Peace Without Justice (Não há paz sem justiça), com o respaldo do governo do Canadá, Cengiz apoiou um relatório sobre o assassinato de Khashoggi publicado na semana passada pela relatora da ONU sobre assassinatos seletivos e execuções arbitrárias, Agnès Callamard.

Esse documento pôs em evidência a responsabilidade das autoridades sauditas neste crime, incluindo o príncipe herdeiro Mohammad bin Salman, que responderam questionando a credibilidade da investigação.

Por outro lado, para Cengiz "é o primeiro relatório que deixa claro como se deve proceder", em referência à recomendação da relatora para que a ONU inicie uma investigação internacional sobre a morte em outubro do ano passado de Khashoggi, que tinha se exilado nos Estados Unidos um ano antes após passar a ser considerado um dissidente em seu país.

Cengiz, de origem turca, considerou que a ONU tem agora a responsabilidade de investigar de maneira mais profunda a morte do jornalista e que o relatório de Callamard "não seja esquecido em algum tempo".

"Se a ONU não investigar e não acompanhar este caso, quem poderia fazê-lo?", se perguntou.

A noiva de Khashoggi lembrou que, com as informações coletadas e reveladas pela Turquia e das conclusões de Callamard, "ninguém pode negar que isto foi um crime premeditado e não o resultado de uma situação que se tornou incontrolável".

O jornalista, que tinha notoriedade por suas colunas no jornal "The Washington Post", tinha ido ao consulado da Arábia Saudita em Istambul, onde vivia sua noiva, para realizar os trâmites prévios ao seu casamento.

"Passaram quase nove meses e, embora existam evidências da sua morte, do que aconteceu, eu não vi seu corpo, portanto às vezes penso que está vivo, em algum lugar", disse Cengiz no evento organizado na sede europeia da ONU.

Cengiz confessou que falar diante do público sobre o que lhe aconteceu e sobre sua busca por justiça se transformou para ela em um tipo de "tratamento".

No mesmo evento, Callamard revelou que tomou a decisão de investigar estes fatos quatro meses depois do assassinato e de tentar "convencer" outros departamentos da ONU que assumissem esta tarefa.

"Como isto não aconteceu, decidi fazer eu mesma porque entrava na alçada dada a mim pelo Conselho de Direitos Humanos", explicou.

A especialista explicou que o caso de Khashoggi se inscreve em uma tendência em alta de assassinatos seletivos de jornalistas e ativistas políticos, inclusive daqueles que estão no exílio.

"Os assassinatos extraterritoriais de jornalistas e defensores dos direitos humanos no exílio são preocupantes, e as pessoas que vivem no exílio por suas opiniões políticas já não encontram a segurança que se esperava", comentou.

Esta situação se manifesta nas ameaças que recebem, inclusive vivendo em um país distante, na vigilância que sofrem e na intercepção das suas comunicações, detalhou.

Callamard, que apresentará seu relatório no Conselho de Direitos Humanos nesta quarta-feira, disse que esta situação tem um impacto adicional porque assassinatos extraterritoriais violam um princípio fundamental das relações entre os Estados. EFE