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"El Chapo" chama EUA de país corrupto e defesa diz que recorrerá da sentença

17/07/2019 15h04

Nova York, 17 jul (EFE).- O traficante mexicano Joaquín "El Chapo" Guzmán, sentenciado nesta quarta-feira em Nova York à prisão perpétua, rotulou nesta quarta-feira os Estados Unidos de "corruptos", enquanto sua defesa considerou que o julgamento foi um "espetáculo" e informou que planeja recorrer da decisão do juiz.

O líder do cartel de Sinaloa, a mais poderosa organização de narcotráfico do mundo, não prestou depoimento durante o processo, que durou 11 semanas, mas hoje falou diante do juiz Brian Cogan antes de o magistrado dita a sentença, que já era esperada.

Guzmán, de 62 anos, recebeu duas condenações, uma à prisão perpétua e outra a mais 30 anos, tal como pedia a denúncia da Procuradoria. Além disso, o juiz impôs o confisco de US$ 12,6 bilhões em compensação pelo tráfico de milhares de toneladas de drogas para os EUA.

Sobre sua detenção dos últimos 30 meses, 'El Chapo' fez críticas. "Foi uma tortura física e mental, a situação mais desumana que vivi em toda a minha vida".

"Quando fui extraditado (em janeiro de 2017) esperava um julgamento justo no qual minha fama não fosse determinante para a justiça, mas aconteceu justamente o contrário", afirmou hoje o narcotraficante, que foi considerado culpado em fevereiro de 10 acusações, a principal delas de manter uma organização criminosa de maneira contínua.

"El Chapo" também lembrou ao juiz que, após concluir o processo, um membro do júri cuja identidade não foi revelada informou em entrevista ao site de notícias "Vice" que alguns jurados ignoraram as ordens do juiz de não fazer comentários ou ler sobre o caso em jornais e nas redes sociais.

"Já que o governo vai me mandar para uma prisão onde se esquecerão do meu nome. Uso esta oportunidade para dizer que não houve justiça aqui", ressaltou 'El Chapo', que garantiu viver "uma tortura" sob as condições extremas do Centro Correcional Metropolitano de Manhattan, no qual está detido há dois anos e meio.

Em entrevista coletiva posterior, os advogados de Guzmán, que solicitaram um novo julgamento, o que foi negado pelo magistrado, informaram que já estão tramitando a apelação da sentença e classificaram o processo de "espetáculo".

"Houve problemas significativos relacionados com a moção para um novo processo, a extradição, a redução dos interrogatórios... nunca vi algo assim em 28 anos. Nunca fui tão limitado como neste caso, mas eu entendo, pois se tratou de um espetáculo", afirmou o advogado Jeffrey Lichtman.

O defensor também reagiu com ironia à multa milionária imposta a seu cliente e disse que a mesma é "uma ficção e parte do espetáculo", e que o governo dos EUA primeiro "tem que receber o primeiro dólar" de ativos que ele duvida que Guzmán possua, já que as autoridades estão à procura dos mesmos há "décadas".

Lichtman se referiu também à "maldição" sofrida pela mulher do condenado, Emma Coronel, "não só como esposa, mas como mãe de suas duas filhas queridas, que são inocentes" e que "não puderam abraçar seu pai em anos" devido às altas medidas de segurança da prisão nova-iorquina.

O advogado elevou o tom ao revelar que outros companheiros de profissão lhe recomendaram que "protegesse" sua carreira e disse "sinto muito se isso ofende algumas pessoas, mas estou aqui para fazer meu trabalho".

Em relação à detenção de 'El Chapo' na prisão de segurança máxima ADX Florence, próxima a Denver (Colorado), onde ele deverá passar o resto dos seus dias, Lichtman frisou: "Podem enterrar Joaquín Guzmán sob toneladas de metal no Colorado e fazê-lo desaparecer, mas nunca conseguirão se desvencilhar do mau cheiro deste veredito". EFE