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OMS declara surto de ebola no Congo uma emergência de alcance internacional

17/07/2019 17h46

Isabel Saco.

Genebra, 17 jul (EFE).- A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou nesta quarta-feira que o surto epidêmico de ebola na República Democrática do Congo se transformou em uma emergência sanitária de alcance internacional, mas pediu que nenhum dos países vizinhos fechem suas fronteiras porque não há necessidade disso.

A decisão foi tomada por recomendação do Comitê de Emergências da OMS após a confirmação do primeiro caso de ebola na cidade de Goma, capital da província de Kivu do Norte, localizada a 350 quilômetros do que até agora é considerado o epicentro do surto e a cerca de 20 quilômetros da fronteira com a Ruanda.

A OMS esclareceu que não recomenda nenhuma restrição de viagem e de comércio para a República Democrática do Congo porque, ao invés de ajudar a conter a propagação do vírus, isso teria terrível impacto na economia do país e seria contraproducente.

Além disso, a organização enfatizou que se trata de uma emergência de caráter regional, que não representa uma ameaça para o mundo.

"Os integrantes do Comitê enfatizaram que é necessário proteger os meios de subsistência das pessoas mais afetadas pelo surto, mantendo as rotas de transporte e as fronteiras abertas", explicou em entrevista coletiva o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

O presidente do grupo de cientistas, Robert Steffen, insistiu que todos devem seguir essas recomendações e que os países não devem utilizar a declaração de emergência como desculpa para impor limitações a comércio e viagens.

Além desse pedido, Tedros afirmou que a medida também não deve servir de motivo para "estigmatizar e penalizar tanta gente que precisa de ajuda".

O surto de ebola declarado há um ano na República Democrática do Congo se transformou no segundo mais grave da história, após o que aconteceu na África Ocidental entre 2013 e 2016, que causou mais de 11.300 mortes.

Com essa epidemia restrita à República Democrática do Congo, o ebola voltou a mostrar sua periculosidade, já que 1.676 dos 2.512 doentes morreram, de acordo com um balanço provisório, mas que dá uma ideia do que poderia ocorrer se o vírus se propagasse em Goma, uma cidade muito maior - de 1 milhão de habitantes - que qualquer outra afetada pelo vírus até o momento.

Entre os infectados há 136 profissionais de saúde, dos quais 40 morreram.

Durante a avaliação feita hoje, o Comitê de Emergências levou em consideração não só o caso do pastor evangélico que chegou doente a Goma e morreu lá, mas também o fato de que houve um leve aumento de casos em Butemo e Mabalako, enquanto o núcleo da epidemia está se movendo de Mabalako para Beni, todas elas localidades da província de Kivu do Norte.

Steffen comentou que entre os fatores que estão afetando a evolução do surto está a rejeição de parte da população a colaborar com os trabalhos de prevenção e controle devido à desconfiança.

Apesar dos esforços realizados no último ano para sensibilizar a população, muita gente na região simplesmente não acredita que o surto é real e veem as ações de contenção do vírus como suspeitas.

O conflito armado na região também fez com que o foco não pudesse ser controlado, como evidência o fato de que dois trabalhadores comunitários de saúde foram assassinados na semana passada.

Por outro lado, a OMS vem há algum tempo lamentando que os recursos para lutar contra este foco epidêmico sejam limitados, mas Tedros negou que a declaração de emergência tenha como objetivo mobilizar financiamento internacional.

"Não devemos relacionar esta declaração com uma tentativa de obter recursos. O financiamento deveria estar disponível sempre para prevenir esses surtos, para a preparação, em suma para consertar o telhado antes que a chuva caia", disse o diretor-geral da OMS aos jornalistas.

Em todo caso, a OMS assinalou que a República Democrática do Congo e a Uganda, onde houve três casos relacionados entre si e que não se replicaram, agiram o tempo todo com total transparência e que, portanto, todos devem manter "uma política de portas abertas" para eles.

A reação ao único caso em Goma teve início em 72 horas, com a identificação e a localização dos contatos do homem infectado, a vacinação de 75 deles, enquanto outras pessoas que estiveram próximas dele e seus familiares estão sob supervisão.

Além disso, 15 mil pessoas são submetidas a controles diariamente para detectar qualquer caso suspeito no posto de fronteira com a Ruanda próximo de Goma. EFE