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Flórida recruta insetos para matar plantas, incluindo uma espécie brasileira

18/07/2019 06h02

Ana Mengotti.

Miami, 18 jul (EFE).- A Flórida está recrutando exércitos de insetos contra espécies invasoras, neste caso de plantas, que à primeira vista parecem menos prejudiciais do que os pitons, iguanas ou peixes-leão que também tomaram posse dessas terras.

No mês passado, as autoridades de Orlando lançaram um batalhão de besouros em uma fazenda povoada com a chamada batata aérea (Dioscorea Bulbifera), que apesar do nome é uma espécie de trepadeira, e agora as pessoas responsáveis pelo cuidado da grande área úmida do Parque Nacional de Everglades fizeram algo parecido para deter o avanço da pimenta rosa (Schinus terebinthifolius), que na realidade é um arbusto.

Em ambos os casos, que não são os primeiros do chamado biocontrole de pragas neste estado, mas são significativos, verdadeiros especialistas foram escolhidos para eliminar essas plantas.

"Implantamos o que eu chamo de nossas pequenas tropas, que vão lutar para ajudar a salvar o Everglades", disse a tenente-coronel do Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos, Jennifer Reynolds, sobre a libertação dos Pseudophilothrips Ichini em um lugar na entrada da enorme área úmida que cobre uma área de 1,5 milhão de acres (607.500 hectares) no sul da Flórida.

Estes pequenos insetos thysanopteros, chamados tripes ou ácaros, se alimentam do arbusto de origem brasileira que foi introduzido na Flórida no século XIX com fins ornamentais e e se espalhou como ervas daninhas pelas extensas áreas da península.

Os insetos são brasileiros como a árvore, só comem essa planta e servem muito eficazmente como agentes de biocontrole, uma maneira natural de lutar contra as pragas vegetais.

Os Lilioceris cheni, besouros com uma linda e brilhante casca vermelha, não ficam atrás dos insetos brasileiros. Eles não comem nada além de folhas e caules de batata aérea e em questão de meses deixam a planta descascada.

No último dia 27 de junho, funcionários da divisão de Parques de Orlando, no centro do estado, soltaram os besouros em um terreno de três acres (1,2 hectares) coberto pelas videiras da espécie invasora, que vem da Ásia tropical e foi introduzida na Flórida no início do século XX.

Segundo disse à Agência Efe uma porta-voz da câmara municipal, eles esperam que dentro de um período de três meses o exército de insetos tenha causado grandes danos às batatas aéreas.

"Eles têm muito trabalho a fazer, mas não prejudicam outras plantas", disse Tara Russakov, gerente de comunicação e marketing da Câmara Municipal de Orlando.

O Departamento de Agricultura dos EUA, seu equivalente da Flórida e a universidade local estão trabalhando em conjunto para criar e soltar na natureza entre os meses de maio e outubro, os besouros comedores da batata aérea.

Pessoas que tenham propriedades invadidas pela Dioscorea Bulbifera podem inclusive reivindicar um desses pequenos exércitos à Universidade da Flórida.

Algumas das razões mencionadas nas solicitações, aparecem o motivo dessa planta ser indesejável: "cresce por todas partes e escurece a vegetação", "é antiestética quando morre no outono" e "faz diminuir o valor da propriedade".

Mais de 600 mil besouros foram soltos na natureza como parte do biocontrole da batata aérea na Flórida, que começou há alguns anos e deu bons resultados, diz um dos folhetos disponibilizados ao público.

Como bons soldados, os Lilioceris cheni sempre cumprem seu dever. A única trégua em sua luta é nos meses de frio.

No inverno, eles parecem desaparecer, mas quando essa temporada termina, aparecem novamente para controlar a batata aérea e se não o fizerem é porque se mudaram de área pois a tinham deixado completamente descascada, garante o folheto.

No caso de Everglades, uma reserva natural ameaçada pela poluição da água de um lago no centro da Flórida, assim como uma verdadeira praga de serpentes pítons birmanesas, que ameaça a vida selvagem nativa, a árvore da pimenta brasileira afoga a vegetação nativa e não serve de refúgio para os animais.

Esta planta está causando danos significativos às áreas agrícolas e naturais da Flórida, Havaí e Texas.

O objetivo é reduzir em 80% o avanço de uma planta que cobre mais de 700 mil acres (283.500 hectares) de terreno na Flórida, incluindo partes de Everglades, sem prejudicar as plantas e os animais nativos. EFE