Irã e Reino Unido, uma relação de desencontros e suspeitas
Marina Villén.
Teerã, 22 jul (EFE).- "Morte ao Reino Unido" é o grito que se sobressai nos últimos dias em qualquer manifestação convocada pelas autoridades do Irã, além de ameaças proferidas contra os Estados Unidos e Israel.
A relação entre Teerã e Londres esteve limitada por vários desencontros e atingiu o ponto máximo de tensão após a captura por parte da Guarda Revolucionária iraniana de um petroleiro britânico no estreito de Ormuz.
O Reino Unido teve uma grande influência no Irã monárquico, com destaque para a invasão britânico-soviética do país em 1941 que forçou a abdicação de Reza Xá, próximo ao eixo germânico-italiano, a favor do seu filho, Mohammad Reza Pahlavi.
Uma década depois, com a nacionalização da companhia petrolífera britânica Anglo-Iranian Oil Company, o Reino Unido tramou um golpe de Estado que, com a ajuda dos Estados Unidos, derrubou em 1953 o primeiro-ministro Mohammed Mossadegh, uma ação gravada a fogo na opinião pública iraniana.
O triunfo da Revolução Islâmica em 1979 mudou totalmente o status quo. Estes são os dez pontos para entender os complicados laços entre o Irã e o Reino Unido desde então:.
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1. SUSPENSÃO DAS RELAÇÕES E ATAQUE À EMBAIXADA IRANIANA.
Com o triunfo da revolução e a derrocada do xá Mohammad Reza Pahlavi, o Reino Unido suspende relações diplomáticas com o Irã e fecha sua embaixada em Teerã.
Em abril de 1980, um grupo terrorista opositor do regime de Teerã ataca a embaixada iraniana em Londres e reivindica a libertação de 91 presos no Irã, mantendo 26 reféns durante seis dias e executando um dos diplomatas.
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2. BREVE REATAMENTO DOS LAÇOS E FATWA CONTRA SALMAN RUSHDIE.
O Reino Unido reabre sua embaixada em Teerã em 1988, mas este reatamento dos laços dura pouco, já que em fevereiro de 1989 o aiatolá Ruhollah Khomeini emite uma fatwa (pronunciamento islâmico) de morte contra o escritor anglo-indiano Salman Rushdie.
Khomeini, fundador da República Islâmica, considerou que o livro "Os Versos Satânicos", de Rushdie, era uma blasfêmia e estimulou os muçulmanos de todo o mundo a assassinar o escritor.
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3. ENVIO DE EMBAIXADORES.
As relações entre Irã e Reino Unido eram mantidas em nível de encarregados de negócios desde 1990 até que, em 1999, os dois países anunciaram a designação de embaixadores.
A chegada à presidência do reformista Mohammad Khatami (1997-2005) favorece uma normalização das relações, e o então ministro britânico das Relações Exteriores, Jack Straw, viaja para Teerã em 2001 para fazer a primeira visita de um chefe da diplomacia britânica ao Irã desde a Revolução Islâmica.
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4. CAPTURA DE MILITARES.
Em março de 2007, 15 marinheiros da Marinha britânica são capturados pela Guarda Revolucionária iraniana na fronteira marítima entre o Irã e o Iraque e libertados 13 dias mais tarde.
Londres alega que seu navio HMS Cornwall estava em águas sob a soberania iraquiana, mas Teerã responde que eram suas águas territoriais.
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5. PROTESTOS REFORMISTAS DE 2009.
O líder supremo do Irã, Ali Khamenei, acusa o Reino Unido de enviar espiões e instigar as manifestações contra a reeleição como presidente do ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad, considerada uma fraude pelos reformistas.
O Irã expulsa dois diplomatas britânicos, e o Reino Unido responde com uma medida similar. Pouco depois, são detidos funcionários iranianos da embaixada britânica.
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6. ATAQUE À EMBAIXADA BRITÂNICA E NOVA RUPTURA DE RELAÇÕES.
Em novembro de 2011, um grupo de estudantes islâmicos ataca e saqueia a embaixada britânica em Teerã em protesto pela decisão do Reino Unido de impor sanções ao Irã por seu programa nuclear.
Os manifestantes causam grandes danos materiais e queimam documentos oficiais. Após este episódio, os dois países fecham suas respectivas embaixadas.
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7. LONDRES, SIGNATÁRIO DO ACORDO NUCLEAR.
Com a eleição do moderado Hassan Rohani como presidente do Irã, a situação entre os dois países começa a melhorar, e eles decidem designar encarregados de negócios para retomar as relações diplomáticas.
O Reino Unido, como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, é um dos seis signatários, em julho de 2015, do histórico acordo nuclear com o Irã, que limita o programa atômico de Teerã em troca da suspensão das sanções internacionais.
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8. REABERTURA DAS EMBAIXADAS.
Pouco depois da assinatura do acordo nuclear, em agosto de 2015, o Reino Unido e o Irã reabrem oficialmente suas embaixadas em Teerã e Londres.
"Reabrir as nossas embaixadas é um passo-chave para melhorar as relações bilaterais", disse o então ministro das Relações Exteriores britânico, Philip Hammond, durante a cerimônia organizada em Teerã.
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9. DETENÇÃO DE NAZANIN ZAGHARI-RATCLIFFE.
A britânico-iraniana Nazanin Zaghari-Ratcliffe, funcionária da Fundação Thomson Reuters, é detida no aeroporto de Teerã em abril de 2016, quando se preparava para retornar ao Reino Unido com a filha após visitar seus pais.
Zaghari-Ratcliffe é condenada a cinco anos de prisão por crimes de espionagem que ela nega. O caso, que ganhou grande repercussão midiática, criou incontáveis desencontros entre a diplomacia dos dois países.
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10. CAPTURA DE PETROLEIROS.
A Marinha britânica intercepta em Gibraltar o petroleiro iraniano Grace 1 no último dia 4 de julho por suspeitar que transportava petróleo à Síria, país sujeito a sanções europeias.
Em resposta, a Guarda Revolucionária iraniana captura no dia 19 o petroleiro britânico Stena Impero por não respeitar as normas de navegação no estreito de Ormuz. EFE
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