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FAO começa hoje novo ciclo após saída do brasileiro José Graziano

O chinês Qu Dongyyu, novo diretor-geral da FAO, e o brasileiro José Graziano da Silva, que deixa cargo após oito anos - Vincenzo Pinto/AFP
O chinês Qu Dongyyu, novo diretor-geral da FAO, e o brasileiro José Graziano da Silva, que deixa cargo após oito anos Imagem: Vincenzo Pinto/AFP

Belén Delgado

Em Roma

01/08/2019 13h39

O novo diretor-geral da Organização da ONU para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o chinês Qu Dongyu, passa a encarar a partir de hoje o desafio de mobilizar mais esforços públicos e privados contra a desnutrição, em clara ascensão no mundo.

Dongyu começou nesta quinta-feira seu mandato, substituindo o brasileiro José Graziano, que em seus quase oito anos à frente da agência insistiu na necessidade de conseguir dietas mais saudáveis e sustentáveis, visto que produzir alimentos suficientes em nível global não bastou para acabar com a fome.

Pelo contrário: em 2018, a desnutrição crônica cresceu pelo terceiro ano consecutivo até afetar quase 822 milhões de pessoas, enquanto já são mais numerosos os que sofrem de obesidade e cerca de 2 bilhões (um a cada quatro indivíduos) têm insegurança alimentar.

Nessa complexa transição para dietas de pior qualidade, ainda não foi formulada a resposta que os analistas reivindicam para erradicar todas as formas de desnutrição até 2030, como marca a agenda de desenvolvimento sustentável pactuada em nível internacional.

Em um de seus últimos atos como diretor-geral, Graziano pediu maiores taxas sobre produtos como as bebidas doces que causam efeitos prejudiciais secundários na saúde e no meio ambiente.

Além disso, criticou que no mundo acadêmico, nas instituições e na publicidade há "muitas mãos que interferem" e moldam os sistemas alimentares, até terminar fazendo, por exemplo, com que "a comida saudável seja mais cara e difícil de encontrar nas cidades".

A presidente da Aliança de Doenças Não Transmissíveis, Katie Dain, pediu uma "maior liderança" para elevar os impostos dos produtos de alto teor de açúcares, gorduras saturadas e sal, restringir ou proibir sua publicidade e melhorar as informações das embalagens.

Por sua vez, a diretora do Grupo Mundial sobre a Agricultura e os Sistemas Alimentícios para a Nutrição (Glopan, na sigla em inglês), Sandy Thomas, ressaltou à Agência Efe que "os governos precisam facilitar uma mudança na atividade do setor privado a favor de alimentos mais nutritivos e acessíveis".

Para conseguir isso, Sandy disse que é preciso haver "um entendimento comum sobre a combinação adequada de regulações e incentivos", como as ajudas e os subsídios que devem apoiar tal transformação mediante o investimento, a inovação e a eficiência no setor.

Os subsídios atuais facilitam um modelo no qual, segundo a FAO, "os produtores não oferecem o que deveriam", já que continuam proporcionando, sobretudo, cereais como milho e arroz e outros produtos como a carne quando o que falta é consumir mais frutas e verduras.

As dietas deficientes e a desnutrição são responsáveis por quase uma de cada três mortes, e doenças não transmissíveis, como a diabetes ou o câncer, impulsionadas em grande medida por essa má alimentação, custam ao mundo mais de 6,3 trilhões de euros ao ano.

Já segundo Dain, a alimentação do futuro estará condicionada pelo aumento da população mundial, a rápida urbanização e as mudanças nas dietas, especialmente nos países de renda média e baixa.

"Há fatores sociais, ambientais e comerciais que influem e incentivam o consumo de determinados produtos às custas da saúde. Não se trata de culpar atitudes pessoais", ressaltou.