Matriarcado indígena: quando as mulheres governam com a natureza
Belén Delgado.
Roma, 11 ago (EFE).- Nas sociedades indígenas matriarcais, as mulheres ditam as normas, e o sentido de comunidade prevalece em pleno respeito à natureza, costumes que podem inspirar o resto do mundo caso sejam preservados.
Os minangkabau, mais de 4 milhões de pessoas que habitam a parte leste da ilha de Sumatra, na Indonésia, constituem a maior comunidade matriarcal do mundo.
Isso significa que as mães ocupam o centro da sociedade: são elas que tomam as decisões, administram o cuidado com a natureza e cuidam das florestas e da agricultura. E não veem desaparecer o direito de usar os recursos naturais, como acontece em muitos sistemas patriarcais.
"As nossas propriedades e heranças vão para as mulheres, já que são transferidas às filhas. Nós as administramos, mas não podemos vendê-las. A terra, para nós, é um bem comum", declarou Nofri Yani, integrante desse povo, o único com essas características em relação aos demais indonésios.
Os homens apoiam as atividades das mulheres, responsáveis por levar o alimento à mesa, e têm a "obrigação" de plantar frutos - coco, manga e abacate - antes de se casarem para poderem obter renda. Yani considera que há igualdade de gênero, já que os homens também exercem a função de "líderes em nome de suas mães e irmãs".
A meta dessa comunidade é continuar vivendo "em harmonia com a natureza" e documentar os seus saberes para que não se percam em um mundo no qual "a modernização não acomoda as suas necessidades".
Com o objetivo de potencializar a gestão dos recursos, já que os povos nativos manejam 80% da biodiversidade do planeta, essa indonésia viajou para Roma após participar de um programa de bolsas de estudos de jovens indígenas promovido pela ONU e outras instituições.
Até 280 plantas comestíveis são administradas pela comunidade matriarcal Khasi, de apenas 400 membros, no nordeste da Índia, de acordo com a integrante Merrysha Nongrum.
Segundo ela, as mulheres se reúnem no conselho local, uma "plataforma na qual expressam seus pontos de vista e tratam dos recursos comunitários", enquanto cabe a elas encarar problemas imediatos como a perda de variedades locais, a falta de oportunidades de trabalho e o avanço das monoculturas.
Para o futuro, Nongrum espera iniciar um banco de sementes, ampliar o mercado agrícola, levar a agroecologia às escolas e aprender mais sobre os direitos dos camponeses.
No mundo há registros de mais de 150 sociedades matrilineares, aquelas nas quais o sistema de parentesco segue a linha materna de um indivíduo.
Embora a sua comunidade maia na península de Yucatán, no México, não tenha uma estrutura matrifocal como as anteriores, o jovem Edgar Oswaldo Monte avalia o papel que essas mulheres cumprem como "administradoras dos bens".
"Os homens se concentram na produção, mas as mulheres decidem o que é comido a cada dia e sabem quanto alimento necessitam em casa, de quantos recursos dispõem e os preços pelos quais vendê-los", explicou.
Monte lamenta que certas práticas tradicionais tenham se tornado menos eficientes devido à mudança climática e às pressões externas: não dá para prever as chuvas tão bem como antes com o calendário lunar e também não adianta observar os insetos, que estão sendo exterminados pelos pesticidas.
A alimentação dos indígenas está intimamente ligada à variedade de espécies, segundo o especialista da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) Yon Fernández-de-Larrinoa, que lembra que eles também sofrem desnutrição.
Segundo a FAO, a fome ou a carência de micronutrientes que muitas dessas comunidades sofrem se devem à pobreza na qual frequentemente vivem, sobretudo após a perda do controle das suas terras. Além disso, muitas espécies nativas ricas em nutrientes foram abandonadas ou são pouco utilizadas nas dietas.
Lukas Pawera, do centro de pesquisa de biodiversidade, ressalta a importância de apoiar a diversidade desses sistemas alimentares e destaca os "valores únicos" das sociedades matriarcais, que podem servir como referência na luta contra a mudança climática e pela igualdade de gênero. EFE
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