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Sequestro de ônibus no RJ mobiliza atenções no país 19 anos após "caso 174"

20/08/2019 18h14

Antonio Torres del Cerro.

Rio de Janeiro, 20 ago (EFE).- Quase 20 anos depois do impactante sequestro do ônibus da linha 174, que chocou o Brasil em 12 de junho de 2000, nesta terça-feira o Rio de Janeiro voltou a ser palco de um caso similar, mas na ponte Rio-Niterói e que terminou com os 37 reféns ilesos e a morte do sequestrador, baleado por pelo menos um atirador de elite.

Às 5h26, um ônibus da linha 2520 da empresa Galo Branco que seguia de São Gonçalo para a capital fluminense foi sequestrado por um homem que usava boné e escondia parte do rosto com um lenço. Ele havia subido a bordo às 5h10 no ponto inicial, no bairro de Alcântara. Pouco antes das 6h, já na ponte, ordenou que o motorista atravessasse o veículo na pista sentido Rio.

O criminoso intimidou os passageiros com uma arma - que após o desfecho do caso se soube que era de brinquedo - e uma faca, cortou garrafas de plástico ao meio, para improvisar copos, encheu as partes com gasolina e as pendurou ao longo do coletivo.

Depois de três horas e meia de sequestro, pelo menos um dos 'snipers' que estavam perto do ônibus em locais estratégicos - incluindo um caminhão do Corpo de Bombeiros - atirou no sequestrador, identificado como William Augusto da Silva, de 20 anos, aproveitando que ele tinha descido do veículo para jogar um casaco e antes de subir a escada para voltar a bordo. Ainda não foi divulgado pelas autoridades quantos tiros o acertaram.

Segundo o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), no momento em que foi atingido pelos atiradores do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar, William estava com isqueiro na mão e "pronto para incendiar" o ônibus.

Conhecido por defender a ação de atiradores de elite no combate ao crime e o "abate" de criminosos que estiverem portando fuzis, o que tem polarizado opiniões de especialistas e da sociedade, Witzel, que já manifestou o desejo de um dia se tornar presidente da República, chegou de helicóptero à ponte após o sequestrador ser baleado.

Enquanto era observado por motoristas que haviam saído de seus veículos e tinham ficado presos no congestionamento devido à impossibilidade de seguirem caminho por causa do sequestro, o governador comemorou efusivamente ao descer da aeronave. Mais tarde, ele afirmou ter festejado o fato de os reféns terem escapado ilesos, e não a morte do criminoso.

"Conversei com familiares dele, um deles me pediu desculpa. Mas ele queria pedir desculpas e pediu à toda a sociedade, pediu desculpas aos reféns, disse que alguma coisa falhou na criação e que a mãe está muito abalada. Vamos também cuidar da família dele, tentar entender o problema para que outros não ocorram", afirmou o governador, em tom conciliador.

Witzel também apoiou a atuação da polícia no caso.

"Se não tivesse sido abatido esse criminoso, muitas vidas não teriam sido poupadas. Se a polícia puder fazer o trabalho dela e abater quem está de fuzil, tantas outras vidas vão ser poupadas", declarou, citando também sua visão sobre o combate a quem portar fuzis.

William, que era morador de São Gonçalo, cidade ds região metropolitana do Rio de Janeiro, apresentava sinais de depressão, segundo parentes.

O sequestrador foi levado ao hospital Souza Aguiar, na região central da capital fluminense, mas não resistiu aos ferimentos causados pelos disparos e morreu às 10h35, antes de chegar ao local.

Nenhum dos 37 reféns que estavam no ônibus ficou feridos. Apenas uma mulher passou mal devido à situação traumática e chegou a desmaiar, mas foi socorrida e passa bem.

No Twitter, o presidente Jair Bolsonaro parabenizou os policiais envolvidos na operação.

"Parabéns aos policiais do Rio de Janeiro pela ação bem sucedida que pôs fim ao sequestro do ônibus na ponte Rio-Niterói nesta manhã. Criminoso neutralizado e nenhum refém ferido. Hoje não chora a família de um inocente", disse.

Mais cedo, quando o sequestro sequer tinha terminado, o presidente defendeu o uso de atiradores de elite casos como esse e citou o exemplo do sequestro do ônibus 174, que terminou com a morte de uma passageira.

"Não tem que ter pena (do sequestrador). Defendo que o cidadão de bem não morra na mão dessas pessoas", declarou.

Naquele caso, imortalizado pelo cineasta José Padilha no filme "Ônibus 174", também foi morto o sequestrador, Sandro Barbosa do Nascimento, que alguns anos antes havia sobrevivido à chacina da Candelária.

"A ordem superior era fazer qualquer coisa, menos atirar, e não foi usado um 'sniper' (franco-atirador). O resultado foi a morte de uma professora inocente, e depois o bandido morreu dentro da patrulha", lembrou. EFE