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No G7, premiê britânico tentará se aproximar dos EUA e pressionar UE

22/08/2019 21h52

Guillermo Ximenis.

Londres, 22 ago (EFE).- Em seu primeiro evento internacional como primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson tentará aproximar o país da órbita comercial dos Estados Unidos e vai pressionar os líderes europeus para que aceitem renegociar o acordo do Brexit.

Na cúpula do G7, que acontecerá em Biarritz, na França, a partir de sábado e até a próxima segunda-feira, Johnson reforçará a posição de tirar o Reino Unido da União Europeia (UE) em 31 de outubro, mesmo se não conseguir até lá um novo termo. Por isso, também fará esforços para formalizar o mais rápido possível um tratado comercial com os EUA, ainda que parcial, para diminuir os efeitos de um eventual Brexit "rígido".

O também líder do Partido Conservador terá na cúpula a primeira reunião como chefe de governo com o presidente dos EUA, Donald Trump, com quem demonstrou ter boa sintonia durante o primeiro mês de mandato em Downing Street.

A imprensa britânica informou que Trump, fervoroso defensor do Brexit, estuda a possibilidade de se reunir com Johnson antes do que com qualquer outro líder do G7 - até mesmo com o anfitrião, o presidente da França, Emmanuel Macron - como gesto simbólico para ressaltar a relação especial entre americanos e britânicos.

Nos contatos com Macron, com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o primeiro-ministro demissionário italiano, Giuseppe Conte, Johnson deve reforçar o pedido para que seja suprimido do acordo de saída da UE a polêmica cláusula de salvaguarda que evita a criação de uma fronteira com controle aduaneiro entre a Irlanda e a região britânica da Irlanda do Norte.

A UE apoia a salvaguarda como uma medida fundamental para proteger o processo de paz na Irlanda do Norte, enquanto Londres a interpreta como um impedimento para desenvolver sua própria política comercial após o Brexit e como um recurso para manter o Reino Unido alinhado com o bloco contra sua vontade.

Os líderes europeus têm se mantido firmes até agora na recusa em reabrir a negociação do acordo de saída que tinha sido feito com a ex-primeira-ministra britânica Theresa May, e por isso Johnson tem poucas chances de conseguir que a cláusula de salvaguarda seja suprimida.

Diante do cenário cada vez mais plausível de um Brexit sem acordo, o governo dos Estados Unidos deu sinais nos últimos dias de que está disposto a apoiar o Reino Unido. O assessor de Segurança Nacional de Trump, John Bolton, visitou Londres durante dois dias na semana passada para se reunir com Johnson e com os principais membros do governo britânico.

Para surpresa dos analistas políticos, Bolton não só abordou assuntos de segurança, como as relações com a China e o Irã, mas dedicou boa parte da agenda para falar sobre um acordo comercial com o Reino Unido, uma tarefa aparentemente longe de suas atribuições.

A visita de Bolton disparou as especulações sobre a possibilidade de que Washington e Londres tenham preparado um tratado provisório que entraria em vigor em 1º de novembro, um dia depois da data do Brexit. Com esse possível acordo, o Reino Unido evitaria parte dos transtornos de uma saída da UE sem pacto, que ameaçaria deixar os portos em colapso devido a novos controles alfandegários, provocaria um desabastecimento de alimentos e medicamentos provenientes do continente europeu e empurraria a economia do país para uma recessão.

Porém, os problemas para um acordo entre os dois países não demoraram a emergir. A presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, a democrata Nancy Pelosi, advertiu que o Congresso não aprovará um pacto comercial com o Reino Unido que transgrida o tratado de paz da Irlanda do Norte.

O acordo de Sexta-feira Santa, assinado em 1998, exige que não haja uma fronteira alfandegária tradicional entre as Irlandas. Por isso, o compromisso de paz ficaria tecnicamente quebrado se o Reino Unido sair da UE sem ter aceitado a cláusula de segurança exigida pelo bloco.

O peso dos políticos de ascendência irlandesa no Congresso americano pode bloquear, portanto, as relações comerciais entre Washington e Londres em caso de um Brexit "rígido". Outro obstáculo é a falta de tempo para negociar um acordo comercial muito abrangente em apenas dois meses, daí a possibilidade de que seja feito um tratado parcial que evite o colapso de setores-chave como os de agricultura e indústria automobilística.

Esse convênio poderia transgredir, no entanto, a norma da Organização Mundial do Comércio (OMC) de que os acordos de livre-comércio devem cobrir "substancialmente todas as trocas" entre dois países, uma definição que costuma ser entendida como 90% delas. EFE