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UE repudiará guerra comercial dos EUA

22/08/2019 21h51

Laura Pérez-Cejuela.

Bruxelas, 22 ago (EFE).- A União Europeia (UE) mostrará novamente na cúpula do G7, em Biarritz, na França, o repúdio à guerra comercial empreendida pelo governo dos Estados Unidos, que quebrou o consenso tradicional entre as grandes potências e cada vez mais pesa sobre a economia da Europa.

A direção do bloco não espera "grandes progressos" no encontro de líderes do G7 - que não abordará o acordo negociado entre Washington e a UE - e tem como um dos objetivos ouvir em primeira mão as impressões do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre a economia.

A desaceleração da economia global, as questões comerciais e as tensões envolvendo a China serão debatidos pelos líderes dos países do G7, grupo formado por Estados Unidos, Alemanha, França, Itália, Reino Unido, Canadá e Japão, além da União Europeia, durante um jantar que acontecerá no sábado.

Representada pelo presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, a UE vai reiterar o compromisso com uma reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC) e defenderá a necessidade de resolver os conflitos globais sem que se recorra a medidas protecionistas ou barreiras comerciais.

"Tentaremos transmitir a mensagem que sempre transmitimos: que apoiamos o multilateralismo e a resolução de conflitos na OMC e que a guerra comercial com a China não beneficia a economia a longo prazo", disseram fontes da delegação da UE que participará da cúpula.

Até o momento, Trump vem ignorando as mensagens do bloco. Desde a chegada à Casa Branca, dinamitou a premissa do funcionamento do G7, desde a criação do grupo, em 1975, que é de reunir as potências industriais para que abordem juntos os problemas comuns.

Além da retirada dos Estados Unidos de tratados internacionais considerados essenciais, como o de Paris (sobre o clima) e o nuclear com o Irã, a agressiva política protecionista de Trump, baseada na imposição unilateral de tarifas, na rejeição à OMC e na ideia de que o mundo se aproveita dos americanos se choca frontalmente com o consenso a favor de um comércio livre regulado globalmente.

A ruptura teve um primeiro ato na cúpula do G7 realizada no ano passado, no Canadá. Na ocasião, o presidente dos EUA assinou com má vontade o comunicado adotado no fim da reunião e o detonou logo após subir a bordo do avião que o levou de volta a Washington, com um tuíte em que renegava o que havia pactuado.

Os Estados Unidos impuseram em junho de 2018 tarifas sobre a importação de aço e alumínio da União Europeia, e o bloco respondeu com tarifas sobre 2,8 bilhões de euros em produtos americanos.

Washington, além disso, decidirá antes de novembro se vai taxar as importações de veículos europeus, o que deve gerar outra retaliação por parte do bloco.

Os Estados Unidos já haviam ameaçado aplicar essas tarifas no ano passado, mas houve uma trégua com a União Europeia selada em julho do ano passado, diante da expectativa de que as partes negociem um acordo comercial limitado a bens industriais, mas conversas oficiais ainda não começaram.

Este acordo, no entanto, não será abordado durante a cúpula do G7, já que a meta dos representantes do bloco é debater a situação econômica atual com Trump.

União Europeia e Estados Unidos, além disso, mantêm disputa na OMC pelos subsídios dados a Airbus e Boeing, respectivamente. O caso será decidido nos próximos meses, o que poderá permitir uma nova rodada de taxações pelas duas partes.

Apesar da trégua, Trump não abandona a prática de ameaçar países europeus. A França, por exemplo, foi a última, por adotar uma taxa digital, que o presidente americano aponta como destinada a prejudicar empresas dos EUA.

Nas últimas semanas, a proximidade da saída do Reino Unido da União Europeia, e a nomeação de Boris Johnson, um aliado de Trump, como primeiro-ministro britânico acrescentaram uma tensão maior às relações entre União Europeia e Estados Unidos.

Há poucos dias, o assessor de Segurança de Trump, John Bolton, afirmou em Londres que os EUA apoiarão o processo de rompimento sem acordo e que ofereceu aos britânicos acordos comerciais "setor por setor", antes da assinatura de tratados bilaterais.

Por causa disso, é grande a expectativa sobre se Johnson estará alinhado com os posicionamentos do presidente americano.

Enquanto isso, a economia europeia se ressente do peso da guerra comercial com a China, que se intensificou nesse mês pela ameaça de Washington de subir as tarifas a US$ 300 bilhões em produtos do país asiático.

O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro desacelerou em 0,2% no segundo trimestre, com a Alemanha estando à beira da recessão, e o Banco Central Europeu preparando uma nova rodada de estímulos, diante da perspectiva de que a queda se intensifique. EFE