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Urnas confirmam decadência da velha política colombiana

28/10/2019 17h32

Jaime Ortega Carrascal.

Bogotá, 28 out (EFE).- As eleições locais e regionais do domingo na Colômbia confirmaram a crise dos partidos políticos tradicionais, que perderam a conexão com um eleitorado irritado pela corrupção e pela falta de dinamismo para resolver os problemas do país.

Os representantes da "velha política" perderam espaço em todo o país para novas coalizões e grupos independentes, que tentam renovar as formas de representação na Colômbia, um movimento já visto em outros países da região.

"Foi um fracasso absoluto de todos os partidos, sem exceção, dos partidos que mostraram que hoje em dia não interpretam o sentimento da cidadania. Foi uma queda muito grande do apoio popular", disse em entrevista à Agência Efe o ex-ministro e ex-senador Juan Fernando Cristo, do Partido Liberal.

VITÓRIA DAS COALIZÕES.

Os números são claros sobre a força das novas coalizões nas eleições colombianas. Dos 32 departamentos em disputa, apenas seis foram vencidos por candidatos que só tinham o apoio de seus próprios partidos. Um deles será comandado por um movimento cidadão e nos outros 25 restantes triunfaram coalizões que englobam todo o espectro político do país.

O Partido Liberal, por exemplo, elegeu os governadores de Córdoba e Sucre. Já o Centro Democrático, do atual presidente do país, Iván Duque, levou a melhor nos departamentos de Casanare e Vaupés.

Os outros dois partidos a conquistar sozinhos um governo regional foram o Partido de la U, do ex-presidente Juan Manuel Santos, que ficou com Guainía, e o Partido Conservador, que controlará pelos próximos quatro anos o governo de Caquetá.

Os resultados, porém, mostram que nos outros 25 departamentos, incluindo grandes colégios eleitorais, como Antioquia, Cundinamarca, Vale do Cauca e Atlântico, as coalizões saíram com o triunfo das urnas.

"Em muitos departamentos tiveram que juntar todos os partidos para tentar salvar alguns governadores", acrescentou Fernando Cristo.

O mesmo fenômeno ocorreu nas prefeituras das capitais dos departamentos, nas quais 13 coalizões levaram a melhor na disputa. Nas demais, uma grande pulverização do domínio político, tendo o partido Aliança Verde, que inovou na forma de fazer política, como principal vencedor ao conquistar os governos de Bogotá, Cali, Manizales, Cúcuta e Florença.

Os movimentos cidadãos conquistaram três prefeituras e um independente se elegeu em Medellín.

BRIGA MATEMÁTICA.

"Mudança Radical é o partido com mais departamentos, obtivemos 16. Com este resultado, nos consolidamos como a primeira força política regional. Nenhum outro partido supera os resultados do Mudança Radical nas capitais, entre as quais teremos sete prefeituras", anunciou Jorge Enrique Vélez, o líder da legenda, no Twitter.

O posto de maior força política regional da Colômbia também é disputado pelo Partido de la U e pelo Partido Liberal. Um diz ter conquistado 15 departamentos. O outro, alega ter vencido em sete, tendo mais de 2,6 milhões de votos no total.

Resta saber como as três legendas tiveram tantas conquistas. Se somados as vitórias reivindicadas por elas, a Colômbia teria 38 departamentos, seis a mais do que as 32 existentes.

"Acho que, sem qualquer dúvida, depois do Centro Democrático (partido do governo), os outros grandes derrotados são os partidos tradicionais", afirmou Cristo.

O caso do Centro Democrático é especialmente significativo porque apesar da campanha feita pelo antigo líder da legenda, o ex-presidente Álvaro Uribe, o partido só venceu nos departamentos de Casanare e Vaupés, ficando sem nenhuma prefeitura de capital.

VOTO EM BRANCO

As eleições mostraram também a inconformidade do eleitorado com a classe política, algo que se manifestou com o crescimento do voto em branco. No caso das eleições departamentais, o índice foi de 11,18%, o equivalente a 1,8 milhão de pessoas. Maior ainda foi para as assembleias de cada província, com 2,5 milhões de votos (16,35%).

Em alguns departamentos, como o de Bolívar, o voto em branco ficou com o segundo lugar no pleito, com 24,27% do percentual. Situações similares também ocorreram em Antioquia (13,24%), Atlântico (8,9%) e Magdalena (4,40%). EFE