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Centenas de brasileiros estão "presos" no Sudeste Asiático devido à Covid-19

01/04/2020 20h40

São Paulo, 1 abr (EFE).- Cerca de 300 brasileiros estão retidos há vários dias em países do Sudeste Asiático e enfrentam a angústia de não saber quando poderão voltar para casa, devido às medidas cada vez mais restritivas adotadas por autoridades mundiais para o combate à pandemia do coronavírus transmissor da Covid-19.

À medida em que países da região endurecem ações para conter o avanço da doença na região, centenas de pessoas tiveram voos cancelados e agora correm contra o relógio para retornar ao Brasil antes que medidas mais severas sejam adotadas. Elas também esperam um posicionamento mais firme por parte do Governo Federal, que, conforme muitas alegam, ainda não ofereceu uma solução "concreta" diante dos altos preços das poucas passagens comerciais ainda disponíveis.

Segundo o Ministério das Relações Exteriores, o número de brasileiros retidos no Sudeste Asiático (Malásia, Myanmar, Laos, Camboja, Tailândia, Vietnã, Indonésia e Filipinas), até o momento, é de 315.

A agente de viagens Mayara Delgado Reis contou à Agência Efe que ela e seis amigas não conseguem deixar Bangcoc, capital tailandesa, desde que o voo em que elas voltariam ao Brasil, previsto para o último dia 27, foi cancelado pela companhia Emirates.

"Desde então estamos a ver navios. Alugamos uma casa por três dias e estamos economizando ao máximo. Chegaram a oferecer uma passagem de retorno, mas custava R$ 10,4 mil, e a gente não tinha condições de pagar, disse Mayara em entrevista à Efe por videochamada.

A brasileira, que viajou à Tailândia para uma imersão de meditação de 10 dias, explicou ainda que uma de suas amigas está atualmente em um tratamento contra um câncer e teme que a situação possa se agravar caso o atual cenário se prolongue por muito mais tempo.

"Ela faz quimioterapia, os remédios estão acabandom e tudo o que (a embaixada brasileira) fez até agora foi indicar hospitais", lamentou.

O governo da Tailândia aprovou na semana passada um estado de emergência por um mês, o que abre caminho para a imposição de medidas mais severas para controlar a propagação do coronavírus no país, que conta com mais de 1.500 pessoas infectadas e uma taxa de contágio superior a 100 casos por dia, além de ter registrado nove mortes por Covid-19.

Por isso, brasileiros retidos na região temem um fechamento total das fronteiras, o que pode incluir a proibição de voos e até mesmo de qualquer tipo de deslocamento dentro dos países.

Técnico em Tecnologia da Informação (TI), Emerson Silva estava na Indonésia quando recebeu as primeiras notícias sobre o fechamento das fronteiras na Europa e o cancelamento de milhares de voos ao redor do mundo. Por isso, decidiu antecipar o retorno ao Brasil, mas sua passagem também foi anulada. Agora, espera um posicionamento do Itamaraty e da embaixada.

"Minha volta seria no dia 25, mas, dois dias antes, a Emirates anunciou o cancelamento de todos os voos. Paguei quase R$ 5 mil na passagem, e pode demorar até 90 dias para que me devolvam esse valor", contou.

Preocupado com a situação na capital tailandesa, que concentra a maior parte dos casos registrados no país, Silva decidiu se hospedar na ilha de Koh Tao. Embora a distância para Bangcoc seja de 413 quilômetros, a viagem, que inclui deslocamentos de ônibus e balsa, pode durar mais de 12 horas.

"Estou me hospedando em um hostel à espera de uma solução. Tenho condições de me manter por mais algumas semanas, mas não de pagar uma passagem de retorno, porque estão saindo agora entre R$ 10 mil e R$ 14 mil", afirmou.

Emerson também disse estar confiante que as autoridades brasileiras vão oferecer uma "solução concreta" nos próximos dias.

"A situação vai ficar muito complicada, já estão anunciando novas medidas de contenção. Estamos do outro lado do mundo, e as conexões estão cada vez mais restritas", contou.

Consultado pela Agência Efe, o Ministério das Relações Exteriores informou que está trabalhando "sem interrupção" para que os brasileiros que ainda estão retidos no exterior possam retornar ao país, mas admitiu que uma possível solução "ainda levará dias".

A prioridade é que os viajantes possam ser acomodados em voos comerciais que ainda estejam em operação. No entanto, caso haja a possibilidade de um fechamento do espaço aéreo, o governo poderá adotar outras soluções, como a oferta de voos fretados ou com aviões da Força Aérea Brasileira (FAB).

Ainda segundo o Itamaraty, cerca de 8,6 mil cidadãos brasileiros já foram repatriados desde o início da crise de saúde mundial provocada pelo novo coronavírus.

Nayara Batschke.