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Acusado de terrorismo, herói de "Hotel Ruanda" comparece a tribunal de Kigali

14/09/2020 21h13

Kigali, 14 set (EFE).- Um tribunal de Kigali manteve em prisão preventiva, nesta segunda-feira, o empresário ruandês Paul Rusesabagina, que inspirou o filme "Hotel Ruanda" e salvou mais de 1,2 mil pessoas durante o genocídio contra os tutsis, em 1994, após ser acusado de 13 crimes, vários deles relacionados ao terrorismo.

Numa audiência preliminar, o Tribunal de Kicukiro, em Kigali, também adiou até o próximo dia 17 sua decisão sobre a liberdade condicional solicitada pela defesa de Rusesabagina por motivos de saúde e que hoje apareceu pela primeira vez em público após sua prisão, no dia 31 de agosto.

Rusesabagina, de 66 anos, foi detido no Aeroporto Internacional de Kigali, embora a família e seus advogados garantem que ele foi "raptado, desaparecido e submetido a uma rendição extraordinária de Dubai para Ruanda".

As autoridades ruandesas sustentam que sua prisão foi legal, mas não forneceu mais detalhes e ninguém explicou o que exatamente aconteceu entre o dia 27 de agosto, quando o acusado conversou com sua família após chegar a Dubai (Emirados Árabes Unidos), e 31 de agosto, quando foi apresentado aos meios de comunicação em Kigali.

Ele é acusado de 13 crimes, incluindo fundar e pertencer a um grupo armado, terrorismo, participação em terrorismo com fins políticos, conspiração e cumplicidade em crimes de homicídio, sequestro e roubo.

Protegido com máscara, Rusesabagina, que tem nacionalidade belga e reside nos Estados Unidos, decidiu não se declarar culpado ou inocente das acusações contra si, já que, como afirmou, prefere responder individualmente a cada uma delas no julgamento, uma vez que em algumas delas estaria disposto a declarar parte de sua culpa.

Por exemplo, Rusesabagina admitiu ter dado dinheiro à milícia das Forças de Libertação Nacional (FLN), como acusa o Ministério Público e de que afirma ter provas, mas esclareceu que não pretendia que o grupo matasse pessoas.

"Respondi aos crimes da FLN cometidos no território de Ruanda. Essa não é a missão que lhes havíamos confiado. Peço desculpas por isso", alegou o réu.

Rusesabagina, que era o gerente do hotel mais famoso de Ruanda, que abrigou mais de mil tutsis e hutus moderados durante o genocídio para salvá-los dos hutus extremistas, tinha um mandado de prisão internacional, acusado de crimes como assassinato e sequestro de civis ruandeses.

Os dois advogados de defesa de Rusesabagina argumentaram hoje que o tribunal não tem jurisdição para julgar o réu, visto que é um cidadão belga, o que foi indeferido.

A defesa também pediu liberdade condicional para seu cliente, mas o tribunal optou por se pronunciar sobre a questão somente na próxima quinta-feira.

"Como meus advogados disseram, estou doente. Nas últimas duas semanas, estive no hospital três vezes. Exijo que me seja concedida uma fiança. Não vou fugir da Justiça", disse o próprio Rusesabagina, cuja filha, Carine Kanimba, disse à Agência Efe que a família não foi avisada da audiência de hoje.

"Não fomos informados sobre este comparecimento ao tribunal. Ficamos imaginando que tipo de Justiça haverá se eles nem mesmo informaram a família", disse Kanimba.

A Anistia Internacional (AI) pediu hoje um julgamento justo e denunciou "a falta de transparência em torno da prisão" de Rusesabagina, bem como "relatos de que lhe foi negado o acesso a um advogado contratado por sua família".