ONU pede que líderes sigam a ciência e evitem populismo e nacionalismo
"O populismo e o nacionalismo fracassaram. Usados como foco para conter o vírus, muitas vezes levaram a uma piora notável", disse Guterres no discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU.
O chefe da organização destacou que os governos devem se unir, agir com mais solidariedade e ser humildes o suficiente para admitir que "um vírus microscópico pôs o mundo de joelhos".
"Em um mundo interligado, é hora de admitir uma verdade simples: a solidariedade é do interesse próprio. Se não entendermos isso, todos ficarão a perder", insistiu.
Guterres reiterou a ideia de que esta geração está enfrenta seu 1945, em referência ao ano-chave do século XX, quando a Segunda Guerra Mundial terminou e a ordem internacional que tem governado o mundo desde então foi estabelecida.
"Esta pandemia é uma crise como nenhuma outra que já vimos, mas é também o tipo de crise que vamos ver sob diferentes formas, uma e outra vez. A Covid-19 não é apenas um despertar, é um ensaio geral para o mundo dos desafios que virão", analisou.
Nesse sentido, ressaltou que a ONU está trabalhando para tornar o tratamento da doença um "bem público global" e para que haja uma "vacina popular" disponível a todos.
O diplomata português criticou que "alguns países" estão fechando acordos de vacinas exclusivamente para as próprias populações.
"Este nacionalismo da vacina não é apenas injusto, é contraproducente. Nenhum de nós estará seguro até que todos estejamos seguros", argumentou.
O secretário-geral também insistiu na necessidade de os governos serem guiados pela ciência e focarem na realidade, advertindo contra a disseminação de desinformação na internet.
UM NOVO CONTRATO SOCIAL.
Guterres também pediu mais apoio financeiro aos países em desenvolvimento para evitar que a pandemia os arruine, aumentando a pobreza e a crise da dívida, e disse que a recuperação deve ser uma oportunidade para estabelecer um novo "contrato social".
De acordo com o chefe da ONU, é preciso reimaginar uma economia mais verde - com medidas drásticas para combater a crise climática - e sociedades mais inclusivas com mais proteção social.
Além disso, pediu atenção especial para o impacto da crise nas mulheres e meninas, porque, a menos que medidas sejam tomadas agora, a igualdade de gênero pode retroceder várias décadas, segundo Guterres, que denunciou o aumento da violência doméstica durante a pandemia: "Há uma guerra oculta contra as mulheres", alertou.
Este "novo contrato social" deve ser acompanhado por "um novo acordo global" que crie um sistema mais justo e eficaz de governança internacional. Agora, que a ONU tem 75 anos, a crise mostra que é necessária mais colaboração internacional, não a saída dos países para a esfera nacional, comentou.
CESSAR-FOGO GLOBAL.
O diplomata português também repetiu o pedido por um cessar-fogo global, iniciativa que lançou em março, motivado pela pandemia. A solicitação foi atendida em alguns conflitos, mas ignorada em outros.
"Peço um esforço internacional redobrado, liderado pelo Conselho de Segurança, para alcançar um cessar-fogo global antes do final do ano. Temos cem dias. O tempo está se esgotando", insistiu.
Assim como no ano passado, Guterres alertou novamente sobre o risco de "uma nova Guerra Fria", pois o mundo está se movendo em uma "direção muito perigosa".
Segundo Guterres, as duas maiores economias, Estados Unidos e China, não podem dividir o mundo em dois, com suas respectivas esferas com suas próprias regras comerciais e financeiras, sua própria internet e suas próprias capacidades de inteligência artificial.
"Uma divisão tecnológica e econômica corre o risco, inevitavelmente, de se tornar uma divisão geoestratégica e militar. Devemos evitar isto a todo custo", frisou.
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