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Navalny acusa Putin por envenenamento com substância do tipo Novichok

01/10/2020 17h12

Berlim, 1 out (EFE).- O líder da oposição ao governo da Rússia, Alexei Navalny, acusou, em entrevista publicada nesta quinta-feira pela revista alemã "Der Spiegel", o presidente do país, Vladimir Putin, de ter sido o responsável por envenená-lo.

"Mantenho que, por trás do ocorrido, está Putin, e não tenho outras versões do que aconteceu", disse o político, que passou mal em um avião, quando ia da Sibéria para Moscou, em 20 de agosto, antes de chegar a ficar em coma.

Na conversa com a equipe de reportagem da publicação alemã, Navalny afirma que o "fato mais importante" do caso é o uso de uma substância neurotóxica do tipo Novichok, criada na época da União Soviética para fins militares.

De acordo com o ativista, apenas três pessoas na Rússia poderiam autorizar a utilização do componente, o chefe do Serviço Federal de Segurança (FSB, a antiga KGB), o chefe do Serviço de Espionagem Exterior, e o do Serviço de Inteligência Militar.

Navalny destacou que, conhecendo a realidade do país, "uma decisão assim não pode ser tomada sem a ordem de Putin", já que se tratam de subordinados.

"Se não foi ele, tudo seria ainda mais grave. Um frasco de Novichok é suficiente para envenenar todos os passageiros de uma estação de metrô importante de Berlim. Se o acesso a esse agente de guerra não está na mão de três pessoas, mas sim de 30, seria uma ameaça global. Isso seria horrível", afirmou o oposicionista.

Navalny recebeu alta na semana passada do Hospital La Charité, em Berlim, após 32 dias internado por causa do envenenamento. Segundo os médicos, a recuperação dele poderá chegar a 90%, talvez até 100%, mas que existem muitas incertezas.

"Não há muitas pessoas a quem você possa observar vivas depois de um envenenamento por agente nervoso", explicou o ativista.

Na entrevista, Navalny ainda garantiu que o governo russo seguirá mantendo o padrão de envenenar adversários políticos, mas adiantou que não dará a Putin "o presente de não voltar" para o país natal, já que não interessa a ele ser um líder oposicionista no exílio.

"Estou feliz que ninguém ao meu redor pensou que eu não voltaria. Não voltar significaria que Putin atingiu seu objetivo. E minha tarefa agora é continuar sendo aquele que não tem medo. E eu não tenho medo", disse.

GOVERNO ATACA NAVALNY.

Pouco depois da veiculação da entrevista, o governo da Rússia, através do porta-voz, Dmitry Peskov, se manifestou e negou todas as acusações feitas por Navalny ao "Der Spiegel".

"Algumas das afirmações, consideramos insultantes, absolutamente insultantes, e inaceitáveis", disse o representante do Executivo, em entrevista coletiva.

"Esse é um método conhecido utilizado por aqueles que querem se colocar no mesmo nível dos chefes de Estado, que aspiram a alguma forma de participar na luta política", completou Peskov, que garantiu não considerar Navalny uma verdadeira oposição.

O porta-voz acusou ainda os serviços secretos ocidentais de "provavelmente" trabalharem com o ativista, organizador dos maiores protestos contra o governo desde a queda da União Soviética.

"Posso até afirmar de forma concreta que os especialistas da CIA estão trabalhando com ele atualmente. Esta não é a primeira vez que dão alguma instrução a ele. As instruções que o paciente recebe são óbvias. Essa linha de comportamento nós vimos mais de uma vez. Não há nada a esconder aqui", garantiu Peskov.