Pandemia pode agravar doenças crônicas e pouco conhecidas, como a psoríase
O chefe do serviço de dermatologia do Hospital Federal dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, Paulo Oldani, ressalta que é essencial que os pacientes mantenham o tratamento, seja qual tiver sido o indicado por um especialista.
"Não pode acontecer de o paciente com psoríase interromper o tratamento por medo de contrair a Covid-19, porque não há relação direta entre o novo vírus e o agravamento da doença, a não ser pelo estresse, que pode exacerbar os sintomas da doença", afirmou.
Devido às restrições de circulação para evitar aglomerações, algumas recomendações para o tratamento da psoríase foram afetadas nos últimos meses, como conta Marcelo César, diagnosticado com a doença há 20 anos.
"Fomos obrigados a parar de fazer atividades que ajudavam no tratamento da doença, como exercícios físicos, e até mesmo o acesso aos médicos ficou limitado. O estado emocional debilitado está diretamente ligado à doença, que leva a um estresse emocional muito grande que piora a situação", disse.
Ainda sem cura, a psoríase é uma doença crônica e inflamatória de pele que atinge mais de 5 milhões de brasileiros em uma curva crescente ano a ano. Mais do que a relação com o novo coronavírus, o que preocupa pesquisadores e médicos são os impactos causados por ela, como outras complicações metabólicas e até mesmo o preconceito.
Apesar de ser uma doença comum, apenas 6% da população brasileira reconhece as lesões da psoríase, e 49% acredita que ela seja contagiosa. Os dados são da pesquisa "Psoríase: conhecimento entre a população brasileira", realizada pelo Instituto Datafolha e encomendada pela biofarmacêutica AbbVie, que entrevistou 2.080 pessoas de 130 municípios brasileiros em dezembro de 2019, com resultados divulgados nesta semana para marcar o 29 de outubro, Dia Mundial da Psoríase.
A pesquisa revelou que 90% dos brasileiros desconhecem a doença, o que Oldani considera um dos principais problemas para ampliar o preconceito por conta da aparência das lesões e descamação da pele.
"Ao longo do tempo, por mais que trabalhemos na divulgação, a informação ainda é insuficiente. As pessoas vêem as lesões e as feridas, e a primeira impressão é de doença contagiosa, mas não é. Isso faz com que as pessoas evitem o contato, e nossa autoestima fica para baixo", contou César.
O estudo indica que alergia e câncer de pele são as principais associações feitas pela população quando apresentada a imagens de lesões da psoríase. Além disso, o preconceito - apenas com base nas imagens das lesões da psoríase - é alto: 88% dos entrevistados acreditam que pessoas com a doença não podem trabalhar na preparação de alimentos, e 69% afirmaram que elas não podem ter contato com crianças. Um em cada três brasileiros (32%) acredita em quatro ou cinco inverdades sobre a doença, ainda segundo a pesquisa.
"O desconhecimento facilita ainda a disseminação de inverdades sobre a psoríase, o que pode atrasar o diagnóstico e o tratamento adequado. O preconceito e estigma contra a doença e seus pacientes podem aumentar o impacto negativo psicológico e mental dos pacientes, já que, como mostrou este levantamento, 65% dos entrevistados pensam que a psoríase oferece risco à vida, e 49% acreditam que é contagiosa, o que totalmente equivocado", disse Oldani. EFE
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