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ONU vê indícios de envolvimento do governo russo no envenenamento de Navalny

01/03/2021 20h41

Genebra, 1 mar (EFE).- Especialistas das Nações Unidas que investigaram durante quatro meses o envenenamento do líder da oposição russa Alexei Navalny indicaram que as provas encontradas apontam para um "provável envolvimento" de funcionários do governo russo, presumivelmente do alto escalão, nesse caso ocorrido em agosto do ano passado.

Em uma carta oficial enviada às autoridades russas no mês de dezembro, cujos detalhes foram divulgados nesta segunda-feira que a cláusula de confidencialidade de dois meses expirou, as duas investigadoras da ONU, Agnès Callamard e Irene Khan, disseram que o veneno usado, Novichok, é uma dessas provas.

"O conhecimento necessário para manuseá-lo e desenvolver novas formas de Novichok, como a encontrada nas amostras retiradas de Navalny, só pode ser encontrado em agentes do Estado", observam os relatores em sua carta.

"É um produto desenvolvido pela União Soviética e só a Rússia é conhecida pela sua fabricação, desenvolvimento e utilização", detalhou Callamard, especializado em execuções extrajudiciais ou arbitrárias, durante entrevista coletiva organizada hoje para explicar os resultados das investigações.

"Navalny foi atacado por ser quem ele é: um político, um ativista anticorrupção e um crítico do governo que denunciou repetidamente as práticas corruptas de altos funcionários russos", acrescentou Irene Khan.

O ataque ocorreu "para gerar medo e enviar um aviso de que isso poderia acontecer a qualquer pessoa que atacar o governo", aponta Khan, enquanto Callamard lamentou que as autoridades russas, longe de responder aos pedidos de investigação, estão tentando atacar a credibilidade da vítima.

"Dada a resposta deficiente das autoridades nacionais, o uso de armas químicas e o padrão aparente de assassinatos seletivos, acreditamos que uma investigação internacional deva ser realizada com urgência", afirmaram as representantes da ONU, ressaltando que essas investigações são fundamentais, considerando que Navalny na prisão.

Outra evidência que, segundo as especialistas, indica que a Rússia pode estar envolvida no ataque ao líder da oposição é o fato dele ter ficado sob vigilância estatal quando foi envenenado, "portanto, é improvável que terceiros tenham administrado o produto químico proibido sem o conhecimento das autoridades".

Mesmo no "caso improvável" do ataque não ser obra das autoridades, Callamard e Khan asseguraram que o governo de Vladimir Putin "teria falhado em sua obrigação de proteger Navalny", que já havia sido ameaçado em ocasiões anteriores e sujeito a pelo menos duas outras tentativas de envenenamento.

O governo russo "não pode escapar de suas obrigações de direitos humanos negando sua responsabilidade no caso", disseram depois de reiterar que Navalny deve ser libertado.

Elas também disseram que o uso do Novichok viola a convenção internacional contra uso de armas químicas e as leis de direitos humanos contra execuções arbitrárias e tortura ou tratamento desumano de detidos.

O envenenamento de Navalny - resumiram - "faz parte de uma prática observada durante décadas de assassinatos ou tentativas de assassinato contra cidadãos russos e críticos ao governo dentro ou fora do país", um comportamento que em sua opinião "requer uma resposta da comunidade internacional". EFE

abc/phg