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Índia se compromete a devolver estatuto de "estado" à Caxemira

25/06/2021 04h50

Nova Délhi, 26 jun (EFE).- O primeiro-ministro da Índia, o nacionalista hindu Narendra Modi, prometeu nesta quinta-feira restaurar o estatuto de "estado" da Caxemira, que foi dissolvido há quase dois anos quando Nova Délhi aboliu a semi-autonomia que a região desfrutou por décadas.

"(Modi) nos garantiu que um roteiro para as eleições será estabelecido. O primeiro-ministro também disse que está comprometido com a restauração do estado", disse Altaf Bukhari, líder do partido regional Jammu e Caxemira Apni, a repórteres após uma reunião entre o governo e lideranças regionais.

A decisão de 5 de agosto de 2019 de dissolver o estado de Jammu e Caxemira, que passou a se bifurcar em dois territórios governados por Nova Délhi, foi então justificada pelo governo como uma medida necessária para impulsionar seu desenvolvimento, lastrado por conflitos na fronteira e o surgimento de uma insurgência armada.

"Nossa prioridade é fortalecer a democracia de base na Caxemira. A delimitação deve acontecer em um ritmo rápido para que as eleições possam acontecer e a Caxemira obtenha um governo eleito que fortaleça sua trajetória de desenvolvimento", postou Modi no Twitter após a reunião.

O evento de hoje, o primeiro do género desde a extinção da semi-autonomia, é visto como um dos maiores passos para a paz nesta região, que perdeu o direito à sua própria constituição, bandeira e cidadania regional.

A abolição da semi-autonomia e do estado foi acompanhada por duras restrições de confinamento e às comunicações na região e pela detenção automática de muitos dos líderes locais, gerando intensos protestos comunitários e aumentando o sentimento anti-Índia.

AS REIVINDICAÇÕES.

"Mantivemos as reivindicações para que concedam o estatuto de estado em breve, realizar eleições para a assembleia para restaurar a democracia, o retorno da comunidade pandit da Caxemira e a libertação de todos os presos políticos", disse Ghulam Nabi Azad, líder regional do Partido do Congresso, histórica legenda da dinastia Nehru-Gandhi.

Entre os quase 15 líderes regionais convidados para o evento estavam vários dos políticos detidos em 2019 pelo governo indiano para evitar a instigação do protesto.

"O povo da Caxemira enfrenta muitas dificuldades desde 5 de agosto de 2019. Estão incomodados e emocionalmente destroçados. Se sentem humilhados", descreveu após o encontro a ex-chefe do governo caxemir, Mehbooba Mufti, que esteve sob prisão domiciliar durante 14 meses sem processo judicial.

"Eu disse ao primeiro-ministro que o povo da Caxemira não aceita a forma como o Artigo 370 (que deu semi-autonomia ao estado) foi revogado, de forma inconstitucional, ilegal e imoral", acrescentou.

A decisão do governo indiano de retirar o status de semi-autonomia da Caxemira gerou tensões entre a Índia e o Paquistão, que travaram três guerras e vários confrontos menores pelo controle desse território.

Para o analista e escritor Gowher Geelani, a decisão de convocar um encontro com os líderes caxemires pró-Índia se explica pela "crescente pressão internacional" pelo retorno à normalidade na região.

O Paquistão anunciou há quatro meses que respeitaria o cessar-fogo na chamada Linha de Controle (LoC), a fronteira de fato entre as duas potências nucleares, onde cerca de 50 pessoas foram mortas e mais de 300 ficaram feridas apenas no ano passado.

Até agora, milhares de pessoas morreram na região do Himalaia após uma rebelião armada que começou em 1989 e clamava por sua independência ou adesão à parte da Caxemira administrada pelo Paquistão.