Espanha completa 10 anos sem ETA, mas sombra de grupo paira sobre a política
O décimo aniversário do fim da violência da ETA foi dominado nesta quarta-feira por homenagens às vítimas do grupo terrorista, através de vários atos institucionais.
A data também foi marcada por um desacordo sobre declarações feitas na última segunda-feira pelo líder radical separatista basco Arnaldo Otegi, um dos principais chefes da ala política da organização terrorista, nas quais ele manifestou "pesar e dor pelo sofrimento" que "nunca deveria ter acontecido" pelas vítimas.
Em uma nova declaração divulgada hoje, outro líder pró-independência da região do País Basco afirmou que seu grupo político tenta "construir pontes e não cavar trincheiras", e assegurou que é necessário "encontrar uma solução para a questão dos presos" que foram membros da ETA, assim como "tomar medidas para reconhecer todas as vítimas".
Uma questão que envolve prisioneiros ligados à ETA que estão cumprindo penas em penitenciárias de diversas províncias espanholas longe do País Basco vem causando grande controvérsia na Espanha.
Partidos de oposição ao presidente do governo, Pedro Sánchez, o acusam de fazer acordos com partidos pró-independência bascos relacionados a esses detentos em troca de apoio à aprovação do orçamento nacional para 2022.
Pablo Casado, líder do Partido Popular (PP), o principal da oposição, fez hoje essa acusação em uma sessão de fiscalização do governo espanhol no Congresso.
Casado perguntou ao próprio Pedro Sánchez se um dos acordos entre o governo e o partido independentista basco EH Bildu para aprovar o orçamento envolve a promessa de soltura de 200 terroristas da ETA. O presidente do governo respondeu com um contundente "não".
HOMENAGEM ÀS VÍTIMAS E ARREPENDIMENTO DE TERRORISTAS.
Além da controvérsia sobre os prisioneiros, o décimo aniversário do fim das ações do ETA foi marcado por homenagens às vítimas do terrorismo, com atos institucionais que ocorreram principalmente no País Basco, a região espanhola que foi o epicentro da violência da organização.
Em Bilbao, o presidente regional basco, Iñigo Urkullu, manifestou o desejo de que as vítimas da ETA formem "uma parte ativa da construção da convivência e do futuro" através de uma "memória honesta", e declarou que os bascos "não estamos dispostos a esquecer".
No mesmo evento, familiares das vítimas de atentados da ETA enfatizaram a ideia de que os jovens "devem aprender sobre o sofrimento sofrido aqui para que não volte a acontecer".
Muitos atos foram realizados em várias cidades da Espanha, e personalidades políticas fizeram declarações sobre a data, como o ex-presidente do governo espanhol Mariano Rajoy, que disse que dez anos depois ainda há questões pendentes, como a falta de pedidos de perdão daqueles que "causaram tantos danos".
Em uma carta publicada hoje, sete ex-membros da ETA disseram que é "inaceitável" que a "responsabilidade política" pelos danos causados pela organização seja "não assumida" pela esquerda nacionalista (a ala política do grupo terrorista), à qual eles acusam de "esconder" e "colocar toda a culpa sobre quem cometeu os ataques".
A ETA surgiu em uma data não especificada entre 1958 e 1959, em meio à ditadura de Francisco Franco, como uma organização socialista revolucionária para a libertação nacional, embora ao longo do tempo o componente nacionalista e pró-independência do País Basco e o uso sistemático da violência tenham se firmado.
Como resultado das atividades terroristas da ETA, de acordo com o Ministério do Interior espanhol, 858 pessoas foram mortas.
A ETA parou de matar há uma década. Em 2011, o número de crimes não resolvidos foi calculado em 377. Dez anos depois, 16 casos foram resolvidos segundo a Associação de Vítimas do Terrorismo (AVT), nenhum deles com a ajuda de membros do grupo terrorista. EFE
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