UOL TAB #59: Devoto de 'São MacGyver', consultor ensina a ser mais criativo
Para falar sobre criatividade, o especialista Henrique Szklo, pensador-chefe da Chickenz Consultoria, usa termos pouquíssimos convencionais: evoca São MacGyver, explica o processo House (em referência ao médico do seriado) e valoriza a técnica “te vira, negão!”. Nesta entrevista por e-mail, concedida para o TAB, ele dá dicas de como alguém pode se tornar mais criativo.
TAB - Todos podem ser criativos?
Henrique Szklo - Como devoto de São MacGyver, o santo protetor da criatividade, acredito que ela está ao alcance de todos. Basta conhecer e aprender os caminhos para atingi-la. O que nos impede é o medo de sermos julgados pelos outros, por isso, só somos nós mesmos, verdadeiramente, no banheiro. E com a porta trancada. O segredo está em criar como se estivéssemos no banheiro e, de alguma forma, desenvolver um calo emocional que nos ajude a suportar todas as pressões inerentes ao processo. E como se cria calos? Promovendo atrito continuado, ou seja, exercitando.
TAB - Ao mesmo tempo em que o universo corporativo valoriza a criatividade, há uma pressão por resultados. Não é um paradoxo?
Szklo - A vida do indivíduo criativo só é possível com cobrança: interna ou externa. A criatividade num ambiente sem exigências não floresce. Por nosso cérebro ser afeito aos padrões, o único momento em que ele abre a guarda e permite novas possibilidades é quando a coisa complica. A criatividade é uma ferramenta biológica de sobrevivência por meio da adaptação. Tenho uma técnica muito boa, a propósito de sua pergunta. É o "Te vira, negão!". Não existe nada que estimule mais a criatividade que a obrigação de resolver um problema.
TAB - Como é possível aprender a ser criativo? Você fala em técnicas de desbloqueio, o que seriam elas?
Szklo - Costumo dizer que criatividade não se ensina, mas se aprende. Não há forma de transferir conhecimento como em outras matérias. Mas é possível desenvolver esta capacidade imitando quem sabe fazer e repetindo o processo criativo à exaustão. Ou seja: criar se aprende criando. Aos poucos, nosso cérebro vai entendendo o processo e descobrindo atalhos. Esse conhecimento não é verbal, é cognitivo. A própria pessoa terá dificuldade de expressar o fenômeno. Mas, inconscientemente, estará desenvolvendo sua capacidade.
Técnicas de desbloqueio são formas de "enganar" o cérebro, que aprecia eminentemente os padrões, mais do mesmo, o de sempre. Essas técnicas, as quais dou o nome de indutores, ajudam a pessoa a, racionalmente, buscar alternativas diferentes daquelas que o cérebro sugere e se sente confortável. Indutores podem ser qualquer coisa que inspire a criar: um exercício, uma dinâmica, uma palavra, uma foto, uma música... não importa.
O indutor vai apresentar um caminho novo, uma nova perspectiva para o problema que você está enfrentando e que precisa resolver criativamente. É uma espécie de bússola que dará a direção, mesmo sem apresentar os detalhes da jornada e sem saber ao certo onde você chegará. Seria como um pontapé inicial. Você chuta a bola e sai correndo atrás dela para ver onde é que vai dar.
E a expressão "desbloqueio" não é usada aleatoriamente. Significa justamente que o problema não é aprender a criar e sim desbloquear, tirar da frente os diversos mecanismos cerebrais que impedem o livre pensamento. O cérebro não para um segundo de pensar. Todo mundo repete para si mesmo: "Nossa, como eu penso merda!". Não, não é merda, é adubo. Adubo para a criatividade. São informações que o cérebro usa como uma máquina de lavar roupa, agitando e misturando tudo. Se você não conhecer técnicas para organizar as roupas, vai sempre achar que aquilo não serve para nada, que é só uma bagunça.
TAB - Pode indicar testes ou jogos que considera interessantes/relevantes para a criatividade?
Szklo - Utilizamos em nosso método jogos de salão que, na verdade, servem como um descanso para o cérebro no meio do processo criativo. É o que chamamos de processo House, baseado no famoso médico da TV. Ele sempre descobria a doença do paciente em conversas não ligadas diretamente ao problema. Eu, por exemplo, costumo jogar paciência online.
O cérebro está sempre buscando lógica. Então, quando temos um problema considerado relevante por nós, mesmo quando não estamos pensando nele, o cérebro continua seu esforço por uma solução em segundo plano. Este distanciamento é fundamental para tirar a pressão e ao mesmo tempo oferecer ao cérebro novas referências para que ele possa ampliar sua capacidade de resolver o problema em questão. Na verdade, o ideal é pressionar e relaxar o cérebro alternadamente.
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