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ANÁLISE

Sufocados e metralhados: até quando?

Mototaxista Washington Patricio Ferreira, 29, perdeu irmão de 16 anos em operação policial na Vila Cruzeiro - Herculano Barreto Filho/UOL
Mototaxista Washington Patricio Ferreira, 29, perdeu irmão de 16 anos em operação policial na Vila Cruzeiro Imagem: Herculano Barreto Filho/UOL

Do Núcleo de Diversidade

27/05/2022 10h00

Esta é a versão online da edição desta sexta-feira (27/05) da newsletter Nós Negros, que hoje fala dos casos de violência policial que chocaram o Brasil nesta semana, além de outras histórias e opiniões importantes que foram destaque no UOL. Para se cadastrar e receber este boletim, acesse aqui. Para receber outros 10 boletins exclusivos, assine o UOL.

As histórias de violência policial ganharam destaque no noticiário brasileiro novamente. Em frente ao IML (Instituto Médico Legal) com a certidão de óbito do irmão de apenas 16 anos em mãos, o mototaxista Washington Patricio Ferreira, 29, sentou-se, colocou as mãos no rosto e chorou. Ele relembrava dos últimos momentos ao lado de João Carlos Arruda Ferreira, que o acompanhava justamente em uma manifestação para pedir pelo cessar-fogo da operação policial realizada na Vila Cruzeiro, zona norte do Rio de Janeiro.

A operação é considerada a segunda mais letal da história do estado por ter provocado a morte de 26 pessoas. Na tarde de quinta (26), a Polícia Civil do Rio informou uma revisão em seus dados sinalizando que 23 pessoas morreram na região. Três óbitos, diz a corporação, ocorreram na comunidade do Morro do Juramento, em outro ponto da cidade. Com o episódio, a gestão do governador Cláudio Castro (PL) já acumula as duas maiores chacinas do Rio. O assunto foi parar no STF.

Chacina é o termo técnico para esse número de mortos na Vila Cruzeiro, mas não há palavras para descrever o absurdo que aconteceu no Rio de Janeiro [...] É preciso perguntar que justificativa tem o Bope e a PRF para juntos entrarem em uma comunidade e produzirem um descalabro como esse".
Jurema Werneck, diretora-executiva da Anistia Internacional no Brasil, à coluna de Leonardo Sakamoto

Na outra ponta do país, no município de Umbaúba, litoral sul de Sergipe, Genivaldo de Jesus Santos, um homem negro de 38 anos, morreu após passar por uma abordagem violenta realizada pela PRF (Polícia Rodoviária Federal). De acordo com vídeos e detalhes do boletim de ocorrência, os agentes usaram o que parecem ser bombas de gás lacrimogêneo para dominar e prender Santos na viatura. Segundo laudo do IML, a causa da morte foi "insuficiência aguda secundária a asfixia".

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2021 (levantamento mais recente feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, com dados do ano de 2020), 75,8% das vítimas de homicídio no Brasil eram pessoas negras. Entre as pessoas mortas por policiais, 78,9% são pessoas negras.

Na esfera do poder público, não existe uma divulgação transparente de dados oficiais nacionais sobre homicídios ou sobre mortes provocadas por policiais em todo o Brasil. O governo brasileiro também não disponibiliza dados nacionais sobre as investigações e punições de homicídios.

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NAÇÃO... Gilberto Gil comentou sobre a importância da democracia em entrevista ao "Roda Viva", da TV Cultura. O cantor de 79 anos também analisou o impacto negativo do governo de Jair Bolsonaro (PL) para instituições culturais.

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PIONEIRISMO... A filósofa e escritora Djamila Ribeiro foi eleita para a Academia Paulista de Letras e vai ocupar a 28ª cadeira — lugar que costumava ser de Lygia Fagundes Telles. Djamila é mestra em Filosofia Política e autora de livros como livros "Lugar de Fala", "Quem tem medo do Feminismo Negro?". Ela será a única acadêmica negra da instituição.

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PENDURANDO AS CHUTEIRAS... O brasileiro Marcos Tavares, 38, considerado o maior jogador da história do futebol esloveno, está dando adeus aos campos. O jogo de despedida foi cheio de emoções.

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DANDO A LETRA

Chico Alves - UOL - UOL
Chico alves facebook
Imagem: UOL

Não há cidade onde essa tarefa [defesa dos direitos humanos] poderia ser mais difícil que no Rio de Janeiro, onde a letalidade da polícia ultrapassa todos os limites, a ponto de chamar atenção do mundo".
Chico Alves, jornalista

Em Notícias, Chico Alves procurou alguns militantes para saber qual o sentimento de quem rema contra a maré no estado onde as vítimas fatais em ações policias podem ser contadas em dezenas.

Em Universa, Cris Guterres analisa a ação policial no RJ que fechou 11 escolas. Para ela, a ação põe em curso guerra contra a infância.

Já em Ecoa, Eduardo Carvalho faz uma análise sobre o período pré e pós pandemia.

E em VivaBem, Larissa Cassiano pondera sobre o que é uma urgência ginecológica?

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PEGA A VISÃO

Coletivo Mulheres Negras de Cáceres - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Coletivo Mulheres Negras de Cáceres
Imagem: Reprodução/Instagram

Estamos desenvolvendo estudos, fomentando o cultivo de hortas comunitárias e outras ações de combate à insegurança alimentar e valorização da nossa cultura com foco também na incidência política através de proposição na Câmara de Vereadores para combate à fome no nosso município".
Ana Paula Pinho, professora e integrante do Coletivo Mulheres Negras de Cáceres

O Coletivo Mulheres Negras de Cáceres atua na região pantaneira de Mato Grosso, como um espaço de articulação de mulheres negras da periferia, de áreas rurais e quilombolas. O grupo promove encontros, palestras e audiências públicas, sempre com a mulher negra em evidência. Tudo é focado em empoderar as mulheres pantaneiras, valorizando a identidade, cultura e ancestralidade, principalmente por meio de rodas de conversa. O trabalho também tem ligação com a causa LGBTQIA+, sustentabilidade e educação.

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SELO PLURAL

Sankofa - Thiago Borges - Thiago Borges
Loja colaborativa da casa Sankofa Hub no distrito do Grajaú, periferia da zona Sul de São Paulo (SP).
Imagem: Thiago Borges

A casa Sankofa Hub, aberta em 2021, movimenta a economia criativa no distrito do Grajaú, periferia da zona Sul de São Paulo. A Loja colaborativa ativa negócios locais. O espaço físico também é a sede da rede Nois por Nois, criada para articular e capacitar pequenos negócios na região com feiras e formações. A rede já impactou mais de 3 mil empreendimentos, desde a sua criação em 2016.