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Protestos na Venezuela criam tensão na oposição

27/02/2014 15h16

Por Andrew Cawthorne e Diego Ore

CARACAS, 27 Fev (Reuters) - Um mês atrás, não havia dúvidas na Venezuela de que Henrique Capriles era o líder da oposição, pregando o diálogo e se mostrando comedido nas críticas ao governo socialista.

Depois da derrota apertada nas últimas eleições presidenciais e com o próximo pleito previsto para 2019, o governador via na boa administração e no trabalho de base junto aos pobres a melhor maneira de ganhar força política.

Agora, contudo, uma onda de protestos colocou o presidente Nicolás Maduro sob pressão e também mostrou as divisões na oposição, à medida que um rival de Capriles passou a ter papel preponderante.

Leopoldo López, um economista formado nos Estados Unidos e líder de uma ala radical da oposição, desafiou o estilo moderado de Capriles e organizou a resistência nas ruas contra Maduro. Ele foi preso por liderar as manifestações.

A prisão fez dele um mártir para alguns na oposição e tirou espaço de Capriles, que dá apoio às reivindicações dos manifestantes, mas não às suas táticas, ao mesmo tempo que busca preservar a seu status de principal líder anti-Maduro.

Capriles, de 41 anos, reconhece a tensão na oposição, mas insiste que a principal batalha é contra Maduro, que substituiu o finado presidente Hugo Chávez em eleições em abril passado.

"Não devemos temer as diferenças. Unidade pode ser uma camisa-de-força", afirmou Capriles à Reuters. "Nicolás está desesperado. Estamos vendo o final dele. Ele quis copiar Chávez, mas ele é uma cópia muito ruim. Ele fracassou."

Focar nas diferenças entre Capriles e López seria não só um favor para Maduro, mas também algo irrelevante, dado os problemas graves dos venezuelanos, disse ele.

"As pessoas estão tentando criar um dilema falso na oposição. Tentar transformar o debate da oposição em quem é o seu líder é debochar do momento histórico pelo qual o país está passando."

"Não caio nessa armadilha e digo aos meus seguidores que isso não é um problema. Se esse for o centro das discussões, pode ter certeza que Maduro vai escapar ileso."

O advogado Capriles, quando enfrentou Hugo Chávez em 2012, ganhou o maior percentual de votos que um candidato opositor conseguiu contra Chávez, 44 por cento.

Ele concorreu novamente em abril passado depois da morte do líder socialista, perdendo somente por 1,5 ponto percentual, num pleito que opositores dizem que teve irregularidades.

Capriles votou para o governo do Estado de Miranda, e López convocou os opositores para ir às ruas pedir a saída de Maduro.

Apesar de Capriles ter desaprovado a tática, protestos esporádicos se intensificaram depois de 12 de fevereiro, quando três pessoas foram mortas a tiros numa passeata em Caracas.

Desde então, estudantes têm liderado os protestos, entrado em confronto com a polícia e montado barricadas, o que desagrada a venezuelanos de todas as correntes políticas.

"Os protestos agora têm força própria. Não são liderados por ninguém. O governo está subestimando o descontentamento", afirmou Capriles.

"Todos queremos mudanças, mas se isso não for organizado, com objetivos concretos, vai virar frustração."

Apesar de alguns estudantes apoiarem López e questionarem Capriles, o governador continua bastante popular entre ativistas.

Ele tem sido aplaudido nas ruas e tem 4,2 milhões de seguidores no Twitter. Apesar de López ter roubado as atenções, analistas dizem que o apoio a Capriles é mais consolidado junto aos eleitores de oposição.

O governador tem ajustado a sua estratégia para não parecer enfraquecido. Depois de apertar a mão de Maduro em janeiro, Capriles recusou dois convites para dialogar com o presidente recentemente.

"Você não vai resolver essa crise com uma fotografia de cerimonial", declarou Capriles.

"Como você convoca uma conferência de paz em meio a insultos e ameaças? Nicolás passou boa parte da sua entrevista de sexta-feira me insultando."

Sobre o setor mais radical da oposição, Capriles disse que López e líderes estudantis criaram falsas expectativas.

A reivindicação pela saída de Maduro não tem apelo junto aos chavistas das localidades mais pobres, segundo ele, cujo apoio será crucial para uma mudança.

No entanto, de acordo com Capriles, o governo Maduro está a caminho da "extinção", pois não consegue lidar com os problemas econômicos.

"Em dez meses no governo, tudo que eles fizeram piorou a crise econômica. É a crise econômica que está por trás da crise política."