Divórcio entre grupos Nippon e Techint na Usiminas pode ocorrer em um ano
Por Alberto Alerigi Jr.
SÃO PAULO (Reuters) - O fim da conturbada relação entre os grupos Nippon Steel e Techint na Usiminas pode ocorrer dentro de um ano, com os sócios já discutindo a divisão das plantas da maior produtora de aços planos do país, afirmou uma fonte próxima do assunto.
Na separação da Usiminas, a Nippon ficaria com a usina de Ipatinga, que tem capacidade para cerca de 4 milhões de toneladas de aço por ano, e a Techint ficaria com a unidade de Cubatão, que possui capacidade semelhante mas teve a produção da liga totalmente paralisada no início deste ano.
"A Nippon já chegou à conclusão de que é preciso haver um divórcio", disse a fonte. "Isso tem que acontecer em um ano, não há mais clima de convívio ou confiança."
Segundo a fonte, a divisão da Usiminas seria uma solução em que ambos os grupos, que estão em conflito há meses em torno da gestão da companhia, poderiam sair como "ganhadores".
A Techint entrou no grupo de controle da siderúrgica brasileira no início de 2012 depois de ter acertado a compra da participação no final de 2011, aceitando pagar um preço que embutia um ágio de mais de 80 por cento aos valores da época.
Se ficar com a unidade em Cubatão, a Techint ainda terá acesso ao porto da unidade e também ao laminador concluído em 2012 e que recebeu investimentos de 2,5 bilhões de reais.
O grupo, que chegou a avaliar a construção de uma usina siderúrgica de 5,6 milhões de toneladas no Porto do Açu, no Rio de Janeiro, antes de investir na Usiminas, também manteria presença no Brasil, país considerado estratégico para sua atuação latino-americana.
Enquanto isso, a Nippon considera a Usiminas como estratégica para atender clientes na América do Sul, além de ter investido na companhia desde o início de sua criação, no fim da década de 1950, e se comprometido recentemente a injetar até 1 bilhão de reais até o final deste semestre em uma capitalização da empresa que atravessa sérias dificuldades financeiras.
Procurada, a Nippon Steel no Brasil não comentou o assunto. O grupo japonês afirmou, porém, que "os esforços da companhia estão voltados a permitir que a Usiminas tenha condições de suportar o atual momento do mercado". Techint e Usiminas não se pronunciaram.
Em meados de fevereiro, uma fonte afirmou à Reuters que a Nippon Steel seguia interessada em comprar a participação do grupo Techint na Usiminas se a sócia eventualmente decidisse sair do negócio.
Às 15h33, as ações preferenciais da Usiminas subiam 3,41 por cento enquanto os papeis ordinários tinham alta de 0,72 por cento.
Analistas do Itaú BBA afirmaram em nota a clientes que acreditam que a divisão da Usiminas em duas partes é "uma solução provável... e seria positiva para a Techint já que encerraria o conflito (com a Nippon) e reduziria o risco de novos aumentos de capital na Usiminas".
Além disso, segundo os analistas, para a Usiminas a separação das usinas seria positiva pois solucionaria o conflito societário e poderia levar a alguma injeção de capital por meio da venda da usina de Cubatão à Techint.
Segundo o advogado Henrique Vergara, do escritório Motta, Fernandes Rocha Advogados, as disputas envolvendo os sócios da Usiminas atingiram um ponto em que é difícil esperar uma conciliação e com isso a separação é o caminho mais provável.
"O litígio da Usiminas realmente ganhou proporções muito grandes e neste caso o que existe é uma quebra de confiança e provavelmente o divórcio vai ser a solução", disse Vergara.
Já o advogado Evandro Pontes, professor de direito do Insper, acredita ser necessário a indicação de um mediador para auxiliar os grupos na separação. "O processo de separação tende a ficar estendido no tempo (...) A indicação de um terceiro, em que ambas as partes confiam, poderia ser a solução mais viável. Esticar o debate jurídico ameaça destruir valor e na indústria de base para recompor isso é muito complicado", disse Pontes.
Os próximos dias serão importantes para a Usiminas. Em 18 de abril, a empresa promove assembleia extraordinária de acionistas para aprovar a capitalização de 1 bilhão de reais. Na semana seguinte, deve divulgar o resultado do primeiro trimestre e, em 28 de abril, está marcada assembleia ordinária para escolha dos membros do Conselho de Administração.
CAIXA REDUZIDO
O caixa da Usiminas tinha se reduzido nesta semana a um valor de 100 milhões a 200 milhões de reais, afirmou a fonte, e se a empresa não tivesse conseguido um acordo com os bancos credores da empresa para suspensão de obrigações financeiras por 120 dias, a empresa ficaria sem recursos para tocar suas operações a partir de abril.
O acordo com os bancos só foi possível após a aprovação pelo Conselho de Administração da empresa, na semana passada, do aumento de capital de 1 bilhão de reais.
Segundo a fonte, a capitalização garantiria a entrada, ainda neste ano, de mais 600 milhões de reais vindos do caixa da Mineração Usiminas, mineradora dividida entre a Usiminas e a japonesa Sumitomo Corporation.
Além destes recursos, a companhia poderá contar ainda com cerca de mais 400 milhões de reais advindos da venda de ativos que incluem o edifício sede em Minas Gerais e a empresa de bens de capital Usiminas Mecânica.
"Estes recursos devem dar para pelo menos 2 anos", disse a fonte, acrescentando que paralelamente a Usiminas já iniciou processo de renegociação das dívidas envolvendo prazo de carência e amortização.
A Usiminas encerrou o quarto trimestre com prejuízo de 1,6 bilhão de reais e deve ter outro resultado fraco no início deste ano diante dos impactos da reestruturação, em que se viu forçada a parar a produção de aço em Cubatão e a demitir cerca de 2.000 funcionários diretos da unidade.
Porém, segundo a fonte, os resultados da companhia devem melhorar a partir do terceiro trimestre como resultado dos esforços de ajuste de sua capacidade à demanda por aço do mercado brasileiro, que segue em queda livre.
No primeiro bimestre, as vendas de laminados planos no Brasil, principal mercado da Usiminas, despencaram 24 por cento sobre o mesmo período do ano passado, para 1,4 milhão de toneladas, segundo dados do Instituto Aço Brasil (IABr).